Moção de Repúdio à violência contra a Comunidade pesqueira quilombola de Rio dos Macacos

A Articulação Nacional das Pescadoras fez uma moção de repúdio à violência contra a comunidade pesqueira quilombola de Rio dos Macacos, localizada em Simões Filho (BA). Há anos a comunidade sofre com as violências praticadas pelos soldados da Marinha que já foram flagrados por câmeras de segurança, agredindo uma das lideranças quilombolas. No último dia 26 de outubro, estudantes e professores da UFRB foram impedidos de entrarem no território do quilombo. A proibição atingiu os quilombolas que não puderam chegar às suas casas devido á manifestação das esposas dos militares. Confira a moção na íntegra:

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Nós, mulheres pescadoras, reunidas no V Encontro Nacional da Articulação Nacional das Pescadoras, entre os dias 24 a 28 de outubro de 2017, em São Luís do Maranhão, repudiamos veementemente a violência infligida contra a comunidade pesqueira quilombola de Rio dos Macacos e contra os estudantes e professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que no dia 26 de outubro, foram impedidos de entrarem no território do quilombo.

A violência do Estado brasileiro contra as comunidades tradicionais negras e índias não é algo novo para nós. Como pescadoras, conhecemos de perto a arbitrariedade e a violência do Estado na retirada de nossos direitos, na invisibilização e na negação da nossa identidade.

A coação contra Rio dos Macacos, em que militares da Marinha arbitrariamente determinaram e controlaram o direito da comunidade de acessar o seu território, desrespeitando as garantias constitucionais de ir e vir, é a prova de que a nossa luta pelo território pesqueiro é urgente e determinante para a manutenção e reprodução do nosso modo de vida, assim como de outras comunidades tradicionais.

A violência do Estado e do capitalismo patriarcal, na esfera coletiva da sociedade, estende-se como uma cadeia perversa, nas violências domésticas que, enquanto mulheres, enfrentamos nos nossos lares. Nesses dias de encontro, compartilhamos as nossas histórias de dor e de violências sofridas nas nossas famílias e nos comprometemos, sororamente, em nos solidarizarmos umas com as outras nesse pacto de luta contra a violência do Estado, do capitalismo, do racismo e do patriarcado, que deixam marcas visíveis no nosso corpo, nas nossas vidas e atingem profundamente as nossas almas e comunidades.

Por isso, nos solidarizamos com Rio dos Macacos e com todas as comunidades que estão em enfrentamento a todas as opressões geradas por esse modelo de morte e repudiamos assim as violências infligidas contra os pescadores quilombolas de Rio dos Macacos e os estudantes da UFRB. Exigimos também que o Estado brasileiro urgentemente titule o território de Rio dos Macacos, garantindo todos os meios de manutenção e reprodução da comunidade, o que inclui terra e água para plantar e acesso ao rio para pescar.

Articulação Nacional das Pescadoras

São Luis (MA), 28 de outubro de 2017.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Eva Bahia.

 

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