Movimento Camponês na Palestina: um avanço chave para a defesa da justiça social

Por Ahmed Jaradat*, do AIC, na Página do MST

A realidade palestina e sua agricultura está relacionada à situação da Palestina, a situação do conflito. O conflito na Palestina representa um dos processos de colonização mais longos, mais sérios e mais violentos (pelo menos na história contemporânea) entendida como uma proliferação de assentamentos coloniais, a exclusão de toda uma população de suas terras e a continuação de um projeto cruel apoiado pelas potências coloniais do Ocidente. O projeto de ocupação tem sido bem sucedido em termos de limpeza étnica da maioria do povo palestino, aproveitando nossa terra. A terra que permanece está sendo gradualmente destruída e repovoada com colonos.

O projeto de ocupação na Palestina forçou os palestinos a abandonarem suas terras, separando-as não só de seu país, mas também de sua cultura, seus valores e suas tradições. O povo palestino depende historicamente da agricultura e está ligado a ela. Somos uma sociedade agrícola.

A terra é o foco do conflito e os agricultores palestinos estão na vanguarda da resistência. A realidade imposta pela tomada da Palestina, a expulsão do seu povo, juntamente com a ocupação contínua da Palestina e seu setor agrário (o setor mais fecundo de sua sociedade) criou uma reivindicação entre os agricultores: defenda sua terra. Esta iniciativa tem uma dimensão dupla, social e nacionalista. Ambos determinam a maneira de defendê-lo, seja através de movimentos, instituições, comitês, associações, etc. A natureza multidimensional da luta a torna difícil e complexa, e ainda mais complicado devido ao contínuo ataque israelense aos movimentos, instituições e comitês palestinos que as autoridades de ocupação abordam porque reconhecem essas iniciativas como parte da luta agrícola.

Finalmente, a consciência da ocupação sobre a importância do controle da terra dá origem a um ataque direto dos agricultores individualmente. Não é mais do que uma continuação de uma luta que começou há décadas.

Com a crescente tensão da situação na Palestina, a necessidade de defender a terra está se tornando cada vez mais complexa. Por esta razão, tornou-se uma tarefa importante para o movimento camponês manter a harmonia entre a realidade social e a realidade nacional.

É necessário ressaltar que, nas últimas décadas, houve preferência pela recuperação do caráter político-nacional no trabalho da maioria dos movimentos sociais palestinos devido ao nosso confronto direto e sangrento com o projeto sionista. Por isso, a dimensão político-nacional ajuda a compreender uma grande parte dos problemas sociais que afetam o povo palestino. No entanto, não foi criado um estado de harmonia entre os aspectos sociais e nacionais de muitas questões sociais que afetam os setores do povo palestino.

Devido a todas as ações de deslocamento e controle israelenses da terra, apenas uma parte do nosso povo permanece na sua terra natal e continua apegada ao solo fazendo trabalhos agrícolas. A agricultura continua a ser uma grande parte da vida do nosso povo, especialmente nos territórios ocupados depois de 1967.

Em geral, dezenas de comitês e instituições foram criadas na Palestina para apoiar os agricultores, a fim de promover a constância e coesão na terra. Este apoio foi financiado através da implantação de projetos agrícolas especiais no campo palestino ou através de assistência altruísta através do ensino de técnicas, a fim de atingir um nível de conhecimento avançado de métodos e procedimentos agrícolas.

Esta invenção capturou o interesse dos movimentos políticos e sociais e levou-os a reconhecer a importância de seus projetos, cujo propósito, por um lado, serviu para desenvolver e melhorar a realidade do campo e, ao mesmo tempo, era uma ferramenta para a demanda nacional contra a ocupação e o desenvolvimento dos assentamentos.

Palestina, membro da federação mundial dos camponeses

Os Comitês do Trabalho Agrícola Palestino reconheceram a relevância da coordenação dos palestinos e seu envolvimento nos movimentos sociais, regional e mundial, especialmente com os movimentos agrícolas, e desenvolveram relações internacionais por muitos anos através de uma comunicação contínua com movimentos para destacar a luta dos agricultores palestinos por suas terras.

Este trabalho foi finalmente reconhecido quando a Palestina entrou como membro da federação mundial dos agricultores, Via Campesina, e propôs a nomeação temporária de uma sede palestina para coordenar todos os países árabes, incluindo mais de 200 agricultores. O seu treinamento será válido até a formação da União dos camponeses árabes com Marrocos, através da Universidade Nacional do Setor Agrícola e com a Tunísia, através da Associação Um Milhão de Mulheres Rurais. Este fato dá vida a uma iniciativa sem retrocesso, a nível regional e global, que visa estabelecer uma plataforma social em sua luta pelos direitos dos camponeses e exigir a justiça por sua causa.

O projeto internacionalista também contribui a causa palestina em seu sentido nacional e político, aumentando a consciência mundial da difícil realidade que enfrenta o agricultor palestino sob o colonialismo sionista. Na Palestina, não se pode discutir qualquer questão de uma dimensão social desejada sem discutir a dimensão nacional em relação a ela.

Através do uso efetivo, sistemático e específico da informação e da mídia, juntamente com a coordenação entre o sindicato dos agricultores palestinos e os movimentos agrícolas internacionais, o sofrimento do agricultor palestino em todas as suas facetas pode ser abordado.

Também pode ser criado um estado de solidariedade entre os membros da Via. Devemos reconhecer a importância do trabalho dos movimentos sociais e da sociedade civil em sua luta contra as políticas opressivas e neoliberais para garantir a justiça social para os camponeses. Devemos também manter uma comunicação entre movimentos com interesses comuns em todo o mundo.

Começar com o movimento camponês na Palestina é uma oportunidade para exercer pressão democrática para gerar legislação que proteja e apoie os agricultores, tanto nos setores público quanto privado. Ser membro da Via Campesina também contribui para o desenvolvimento do movimento camponesa palestino em sua luta pelos movimentos sociais civis a nível global para alcançar um mundo baseado na igualdade, respeito mútuo e justiça real.

As guerras, a hostilidade, a exploração dos recursos dos Estados mais fracos, a aceleração do desemprego e a pobreza, a marginalização e a disparidade entre os povos são a essência das políticas neoliberais e do capitalismo explorador.

*Membro da Via Campesina na Palestina e pesquisador do Centro de Informação Alternativa (AIC) / Traduzido do espanhol por María Julia Giménez / Editado por Rafael Soriano.

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