A Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé denunciam a violação de direitos diante das constantes invasões de madeireiros, grileiros e garimpeiros
No Cimi
Invadir territórios tradicionais para grilar vastas áreas e retirar madeira se tornou uma epidemia em Rondônia e coloca em risco a existência de povos indígenas. Um estado habitualmente avesso às leis de proteção de terras da União, na medida em que o usufruto é exclusivo aos povos que as ocupam, agora se tornou um dos lugares do país onde o crime internacional de genocídio ronda diversas terras indígenas.
Depois do Ministério Público Federal (MPF) considerar a grilagem da Terra Indígena Karipuna uma “ameaça iminente de genocídio”, os Uru-Eu-Wau-Wau, povo de pouco contato com a sociedade envolvente, fazem chegar ao público denúncias relativas às invasões no território em que vivem e em outros, incluindo áreas de perambulação de indígenas livres – em situação de isolamento voluntário.
Leia a nota na íntegra:
Nota Pública: denúncia sobre violações de direitos do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau
A Associação do Povo Indígena Uru-eu-Wau-Wau e a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé vêm a público denunciar a violação de direitos do povo indígena Uru-eu-wau-wau diante das constantes invasões de madeireiros, grileiros e garimpeiros e a inércia por parte do Estado Brasileiro, que tem o dever de protegê-los.
A Terra Indígena Uru-eu-wau-wau/Parque Nacional de Pacaas Novos é responsável pela maior biodiversidade de Rondônia e nascente dos 17 principais rios do Estado, além disso é onde vivem os povos indígenas Jupau (conhecidos como Uru-eu-wau- wau), Amondawa, Oro Towati (Oro In) e três grupos de povos isolados, ainda sem contato com a sociedade brasileira. Estes vem sendo constantemente invadidos, seus recursos naturais destruídos e a vida dos indígenas sendo ameaçada pelos invasores.
Os indígenas e a Kanindé vêm denunciando há muito tempo as invasões e pedindo providências. No entanto, poucas ações têm sido realizadas para conter os invasores. A Fundação Nacional do Índio (Funai), orgão responsável pela proteção do território e dos indígenas, encontra-se sucateada e sem recursos humanos e equipamentos para atuar na defesa da integridade física e territorial do povo indígena, precisando urgente que o governo federal dê condições para a Coordenação Regional da FUNAI em Ji-Paraná atuar na defesa da vida e do território indígena.
Ontem, cansados de esperar por providências e a retirada dos invasores de seu território, os indígenas resolveram tomar uma atitude radical e queimaram um dos tratores dos invasores, colocando suas vidas e a dos invasores em risco – na espera que a Funai, IBAMA, ICMBio, MPF e as autoridades policiais possam ajudá-los.
Na região do Grotão e Terra Roxa a terra indígena vem sendo destruída por grileiros e madeireiros há muito tempo e se necessita expulsar os invasores das áreas. Urge que sejam tomadas providências antes que algo pior aconteça. Solicitamos a todos os orgãos públicos e sociedade brasileira que se juntem na defesa destes povos que vêm sendo massacrados há anos e que estão tendo seu território destruído e suas vidas colocadas em risco.
Porto Velho-RO, 10 de maio de 2018
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Protesto dos Uru-Eu-Wau-Wau contra a invasão de madeireiros. Foto: Associação Kanindé