Deputado pró-agrotóxicos promoveu Mitsui, empresa flagrada com venenos ilegais na BA

Nishimori apoiou entrada da multinacional japonesa em Moçambique; braço agropecuário no Brasil cresceu com fertilizantes no Cerrado e foi flagrado com agrotóxicos proibidos

Por Alceu Luís Castilho, em De Olho nos Ruralistas

O relator do PL do Veneno não tem relação amigável com todas as multinacionais do agronegócio. Endividado com a Syngenta, o deputado Luiz Nishimori (PR-PR) também critica a concentração da venda de sementes – o deputado produziu e comercializou sementes no Paraná – pela estadunidense Monsanto. Com a alemã Basf e a japonesa Mitsui, porém, o deputado é mais do que simpático.

O observatório contou em abril que um dos braços agropecuários da Mitsui do Brasil, a Agrícola Xingu, teve pesticidas apreendidos durante uma operação coordenada pelo Ministério Público do Estado da Bahia. Com direito a uso irregular do glifosato, um dos venenos mais utilizados – e contestados – no mundo: “Agrotóxicos proibidos são apreendidos na BA em fazenda da gigante japonesa Agrícola Xingu”.

Nishimori promoveu a Mitsui em Moçambique, em 2012, quando chefiou delegação brasileira que divulgava as vantagens do ProSavana. O projeto – parceria entre Brasil, Japão e Moçambique – é considerado um exemplo internacional de land grabbing, quando grandes empresas internacionais se apropriam – mesmo que legalmente – de terras tradicionais. A Mitsui é parceira da Vale no país africano.

Depois, o deputado seguiu para o Japão, onde relatou a viagem para Moçambique, na agência de cooperação internacional do país, e esteve na sede da Mitsui. Nishimori preside desde 2015 o Grupo Parlamentar Brasil Japão. E é o coordenador de Relações Internacionais da Frente Parlamentar da Agropecuária, o braço lobista institucionalizado – bancado por entidades do agronegócio – da bancada ruralista.

NISHIMORI X SYNGENTA: BENS FORAM LEILOADOS

Indignado com o alto custo de sementes, o deputado e agricultor Luiz Nishimori solicitou, em 2015, uma audiência pública na Câmara sobre o tema. Vimos em outra reportagem que o deputado teve empresas que produziam e vendiam sementes: “Relator do PL do Veneno, Luiz Nishimori vende agrotóxicos no Paraná”.

A reunião foi realizada em outubro daquele ano na Comissão de Agricultura. “Uma saca de 60 quilos de milho está sendo comercializada na nossa região a R$ 20”, informou o parlamentar. “Uma saca de 20 quilos de milho transgênico custa de R$ 480 a R$ 540. Isso é um absurdo, é abuso do poder econômico”.

O deputado reclamava especificamente da Monsanto, que concentrava, segundo ele, 26% da comercialização de sementes. Mas o problema maior de Nishimori não era com a gigante estadunidense, agora comprada pela alemã Bayer, mas com a multinacional suíça – adquirida no ano passado pela estatal chinesa ChemChina – Syngenta.

Os bens do grupo Nishimori foram a leilão por causa de uma dívida de R$ 5,36 milhões com a Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. Devedora também do Funrural, a Mariagro Agrícola foi condenada em julho de 2016, pelo juiz Devanir Cestari, de Marialva (PR), por causa de uma dívida contraída 15 anos antes junto à multinacional suíça.

O mesmo juiz determinou o leilão de bens da Mariagro, nos meses seguintes: uma Kombi 1982; uma Parati e um Gol 1994; um caminhão Mercedes-Benz LS 1929, ano 1984; e uma carreta Randon 1990. Total dos bens: R$ 81.737. Nenhum imóvel, rural ou urbano.

NA EMBRAPA, ELOGIOS À BASF

Em seu perfil no Facebook, Luiz Nishimori contou no dia 23 de novembro que participou de um evento em comemoração aos dez anos do Laboratório Global de Estudos Ambientais e Alimentares da empresa alemã Basf, na Sede da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) em Brasília.

A Basf é parceira da Mitsui Chemicals Agro, braço químico – e também de agrotóxicos – do grupo Mitstui. Em dezembro, Basf e Mitsui assinaram em 2014 um acordo para a produção do inseticida MCI-8007. No mesmo ano o Conselho de Defesa da Atividade Econômica (Cade) aprovou a parceria para o desenvolvimento do produto, com lançamento previsto para 2021.

Durante o evento na Embrapa, Nishimori recheou a empresa alemã de elogios:

– É uma empresa que colabora muito na produção de alimentos, sempre trazendo novas tecnologias e investindo em uma agricultura sustentável. Há 50 anos atrás o Brasil era um dos maiores importadores de alimentos, agora, após o investimento no setor feito por empresas como a Basf, nosso país é um dos maiores exportadores de alimentos.

Segundo o deputado, avaliar os resíduos dos agrotóxicos (que ele chama de defensivos agrícolas) nos alimentos, como faz o laboratório da Basf, e as reações no meio ambiente
“são formas de garantir para a sociedade que todos os envolvidos no setor querem o melhor para o consumidor”.

“Inclusive, temos na Câmara dos Deputados uma Comissão Especial que discute projetos relativos a defensivos fitossanitários”, discursou. “Sou o relator dessa Comissão e uma das nossas maiores preocupações é com a qualidade e a segurança dos alimentos”.

ANVISA E ABRASCO CONDENAM O PROJETO

Organizações como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e até a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não pensam da mesma forma que o deputado. A Abrasco considera que o projeto “põe o lucro acima da saúde das pessoas”. Junto com a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), a Abrasco produziu um dossiê científico contra o projeto de lei.

A Anvisa considera que o substitutivo apresentado por Nishimori desvaloriza todo o trabalho de monitoramento realizado pela agência a e pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. E que o PL “não contribui com a melhoria, disponibilidade de alimentos mais seguros ou novas tecnologias para o agricultor”, nem fortalece o sistema regulatório de agrotóxicos, “não atendendo a quem deveria ser o foco da legislação: a população brasileira”.

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