Debate sobre racismo é ridicularizado durante campanha eleitoral para Conselho de Medicina de SP

Eliane Gonçalves, na EBC

Os debates ficaram acirrados quando a neurocirurgiã Diana Lara Santana, que integra uma das chapas que disputam a nova direção do CREMESP, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, divulgou no Facebook que uma de suas plataformas de campanha é o combate ao preconceito racial contra médicos e contra a população negra.

Diana é a única mulher negra entre os 240 candidatos que se dividem nas seis chapas que disputam as eleições. Além dela, existe apenas mais um candidato negro registrado em outra chapa. Ou seja, os dois representam menos de 1% do total de candidatos à direção do Conselho.

Na campanha, além de defender que situações de racismo precisam ser julgadas pelo conselho, Diana incluiu a foto de outros cinco médicos, todos negros, como apoiadores da proposta.

A Rádio Nacional teve acesso ao post de um médico que compartilhou a proposta de Diana em um grupo fechado do Facebook. No texto, ele colocou a palavra racismo entre aspas e escreveu que a proposta leva a luta de classes para dentro do CREMESP.

Outros médicos comentaram o post. Um deles classificou o debate sobre o racismo de frescura e uma médica chamou de vermes os colegas que apresentaram a proposta.

A reportagem entrou em contato com a Dra. Diana Lara, mas ela preferiu não se manifestar.

Mas procuramos o outro candidato negro, médico com especialidade em psiquiatria. Cleber da Costa Firmino topou falar sobre como o racismo impacta o seu dia a dia dentro do Sistema Único de Saúde.

Sonora: ”Quando a gente fala que a medicina ela é branca, isso está incorporado tanto nos pacientes quanto nos outros médicos. Então, se eu pedir pra vc fechar os olhos e imaginar um médico ele não tem a minha cara e isso leva que eu sofra varios constrangimentos tanto por parte de pacientes quanto de outros colegas que não me veem como medico.”

Em nota, o Conselho disse que repudia qualquer tipo de ato discriminatório e, por isso, desaprova o conteúdo das publicações. A nota também recomenda que as agressões sejam denunciadas à polícia e levadas à justiça.

O CREMESP tem quase 140 mil médicos cadastrados. Quase um a cada 3 médicos que atuam no país são ligados ao conselho paulista. O órgão não soube informar quantos desses profissionais são negros já que essa informação não é solicitada no registro.

Segundo dados da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a população negra é maioria entre os usuários do Sistema Único de Saúde: responde por mais de 70% dos atendimentos e internações.

E, de acordo com o Ministério da Saúde, as mulheres negras respondem por mais de 60% dos casos de mortalidade materna.

As eleições do CREMESP acontecem entre os dias 7 e 9 de agosto.

Reprodução: Rede Mulher e Mídia.

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