Brasil e povos indígenas

por Gustavo T. Gazzinelli

Há alguns anos participei da revisão de dezenas, talvez mais de uma centena de relatórios preparados para o ‘Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil’. Convidado por Tania Pacheco, fiz a revisão de textos e atualização de fontes de informação sobre conflitos socioambientais de diferentes regiões brasileiras.

Esse trabalho me permitiu entender um pouco a natureza das ações de resistência às injustiças históricas que ocorrem em diferentes regiões interioranas, sobretudo na Amazônia, no Centro-Oeste e alguns estados nordestinos.

Aprendi algumas coisas das retrospectivas e históricos visitados.

O Brasil, o Estado brasileiro sempre tratou muito mal povos indígenas e diferentes comunidades campesinas.

Escaldadas pelo pouco caso, várias dessas comunidades e povos passaram a adotar a ocupação como forma de resistência – ocupação de terras (boa parte delas de grileiros e de grandes empresas), ocupação de ferrovias e ocupação de sedes de órgãos públicos responsáveis pelas políticas que lhes dizem respeito – sedes da Funai, do Incra, de ministérios, etc.

Fui obrigado a dar a mão à palmatória ao perceber que somente essas ações, antipatizadas por muitos de nós, eram as que obtinham resultados efetivos.

Promessas em geral nunca foram cumpridas pelas autoridades da ocasião.

[Não à toa, alguns governos querem denominar tais atos como “terroristas”, legalizar terras griladas, armar fazendeiros. E criar polícias/milícias privadas no campo – Zema defendeu isso em sua campanha ao governo de Minasss.]

Mas também tirei outra conclusão da leitura que fiz desses relatórios, particularmente da demarcação das terras indígenas. Fiquei na ocasião muito orgulhoso de ser brasileiro. O Brasil estava protegendo as terras de muitos desses povos, que somados praticam mais de 200 línguas e culturas. Não vou falar que essa política e o atendimento a uma série de problemas era o ideal, mas me deparei com uma compensação e reconhecimento histórico aos povos originários, hoje concentrados sobretudo na chamada Amazônia Legal.

Era uma demonstração civilizatória positiva do Brasil – política que foi sendo paulatinamente ampliada durante décadas e sobretudo após a Constituição de 1988. Para ela contribuíram diferentes governos.

Mas o Capitão (na verdade, tenente) do Mato quer desconstruir tudo isso e ser o chefe do terrorismo (de fato) rural.

Será que ele conseguirá? Tenho sérias dúvidas. Mas o que pensa o Vice Mourão, na coordenação de uma Força Nacional para a Amazônia?

Muitos desses caras acham que o índio deve ser integrado à força ou pelas dinamites das mineradoras, e que a Amazônia pode ser jogada no ralo da anticivilização colonial dos séculos anteriores.

Nenhum valor científico ou climático é a ela atribuído.

Espero que nossa geração consiga encontrar os caminhos para deter a canalhice instalada, ou seremos julgados e jogados na lata do lixo da história pelas gerações vindouras, junto com os abutres no comando atual da nação.

Foto: Reinaldo Meneguim

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