‘Missionários’ no Vale do Javari são tão maléficos quanto o vírus’, afirma Beto Marubo

Por Ninja Ambiental

“Hoje a Funai acha que enfrentar a covid-19 é distribuir cesta básica. É ridículo e patético”, diz Beto Marubo, liderança indígena do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, e integrante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari.

O Vale do Javari fica localizado no Amazonas, e possui a maior quantidade de referências e informações de isolados do mundo. E esses indígenas isolados compartilham o território com vários outros etnias de recente contato como Marubo, Maiguna, Canamari, Matis, Culina). A imunidade entre eles, que é um dos fatores bastante afetado pela doença, é muito baixa. Os indígenas dessas áreas são afetados por malária e hepatite todos os anos, que na região já são doenças prevalentes, ou seja, com ocorrência constante.

Em abril do último ano, Beto Marubo apresentou em assembleia da ONU em Nova Iorque, os problemas que os povos originários vem sofrendo em nome dos povos em isolamento voluntário. Marubo foi um dos convidados do painel SOS Amazônia, durante o recente lançamento da Casa Ninja Amazônia.

Com duras críticas ao modelo de tratamento do governo federal nas políticas com relação a povos isolados, a liderança amplifica os constantes pedidos para que missionários fundamentalistas deixem de atuar junto aos povos isolados do Vale do Javari.

“Os missionários no Vale do Javari são tão maléficos quanto à covid. Eles desorganizam nosso mundo, nossa cultura e nossa cosmovisão. Entende? Os pajés na minha terra, por exemplo, eram chamados de satanás por esses caras. E o pior, em plena pandemia, existiam missionários cooptando indígenas”, diz Marubo.

No início deste mês, o Superior Tribunal de Justiça autorizou a nomeação do novo coordenador da área de isolados do governo brasileiro, o ex-missionário Ricardo Lopes Dias, após uma liminar concedida pelo Tribunal Federal da Primeira Região, proibir a nomeação de Dias devido as decisões tomadas por ele e que, para a Justiça, ia contra os interesses dos povos indígenas.

“Os religiosos aproveitaram uma oportunidade para colocar um artigo nessa lei validando a permanência de missionários em áreas de isolados, ou seja, relativizando, mudando todo o procedimento e o pior, usando o momento de pandemia para se introduzir cada vez mais. É um assédio terrível nessas áreas. E agora eles estão com uma tática de treinar os próprios índios para serem pastores e acessar essas áreas indígenas. Tem essa necessidade de acessar os povos indígenas de forma irresponsável, tentando levar de maneira arbitrária a religião”, conta Marubo.

Enquanto saltava o número de mortes pelo coronavírus no Amazonas, sendo Manaus manchete dos principais jornais do mundo por conta do colapso do sistema funerário, agentes da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), são apontados como responsáveis pelo contágio do vírus nas aldeias do Vale do Javari.

Beto Marubo teme que o tratamento do governo brasileiro coloque em risco povos indígenas isolados. “Hoje a Covid entrou nas nossas regiões devido ao próprio quadro funcional da Sesai. O próprio órgão que deveria proteger nos leva a doença. Quem leva a doença para essas áreas são funcionários pagos pelo governo. O governo paga quem leva o coronavírus para indígenas isolados”, lamenta Marubo.

“O Ministério da Saúde está resumido a um quartel, lotado de militares, e a Sesai funciona de maneira errada, pois, por todo o Brasil, segue realizando serviços sem critério científico, técnico e organizado. Podendo piorar a situação e matar indígenas, isolados ou não”, ressalta.

Foto: Cobertura Ninja Ambiental

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