Pará prende assassino de Zé Cláudio e Maria

Por Marizilda Crupe, especial para a Amazônia Real

Santarém (PA) – Claudelice dos Santos, irmã caçula de José Cláudio Ribeiro da Silva, não conteve as lágrimas ao saber da recaptura de Lindojhonson Silva Rocha, um dos condenados pelo assassinato de seu irmão e da sua cunhada, Maria do Espírito Santo, no Projeto Agroextrativista Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará. Lindonjhonson encontrava-se foragido depois de fugir da Penitenciária Mariano Antunes, em Marabá (PA), em novembro de 2015. 

“Estou sem ação, estou sem ação pra ligar. Eu vou ligar agora pra falar pra ela [Laísa, irmã de Maria]”, declarou, com voz trêmula, Claudelice à reportagem da Amazônia Real, tão logo soube da notícia. “Essa prisão traz para a gente uma esperança muito grande.”

Zé Cláudio e Maria, como eram mais conhecidos, foram assassinados em 24 de maio de 2011 depois de receberem uma série de ameaças pelas denúncias que faziam das ilegalidades que aconteciam no assentamento. Os dois trabalhadores rurais eram lideranças reconhecidas pela defesa da floresta. Lindojhonson Silva Rocha foi um dos executores do casal de agricultores. Quando os dois passavam de moto por uma ponte de madeira, a poucos quilômetros de casa, sofreram uma emboscada. Desde então, a família luta por justiça.

O primeiro julgamento ocorreu em Marabá, em 2013. O fazendeiro José Rodrigues Moreira, irmão de Lindonjhonson, acusado de ser o mandante do duplo homicídio, foi absolvido. Lindojhonson foi condenado a 42 anos de prisão e, o pistoleiro que estava com ele, Alberto Lopes do Nascimento, a 45 anos, que continua preso.

Os advogados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) conseguiram a anulação do julgamento e o desaforamento do processo para Belém, capital do Pará. Em dezembro de 2016, o 6º Tribunal do Júri de Belém condenou o fazendeiro José Rodrigues a 60 anos de prisão sem a sua presença no tribunal, pois ele estava foragido desde a anulação do julgamento de Marabá. José Rodrigues continua foragido.

No website da Agência Pará, as informações são de que a nova prisão de Lindojhonson foi efetuada por duas equipes de policiais civis da Superintendência Regional do Lago de Tucuruí “em uma vila na zona rural de Tucuruí, distante aproximadamente 70 km da sede do município”. De acordo com as investigações, Lindojohnson estaria envolvido com tráfico de drogas e pistolagem na região sudeste do Pará.

Aos 38 anos e no 9º período do curso de Direito da Terra, na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Claudelice conversou com a Amazônia Real sobre a recaptura de Lindojhonson.

Amazônia Real – Como está se sentindo agora?

Claudelice – As sensações são muitas, diversas, mas, principalmente, uma sensação de que a justiça finalmente está olhando pra nós. Porque justiça para o caso do Zé Cláudio e da Maria é também uma esperança para todos aqueles casos dos companheiros e companheiras que foram assassinados na luta, que foram assassinados por defender direitos individuais, coletivos, do meio-ambiente, direitos que são dever do Estado. Essa prisão, e eu tenho certeza que vão conseguir prender o José Rodrigues, traz para nós uma esperança muito grande de que outros casos serão também resolvidos. Justiça para o Zé Cláudio e para a Maria é justiça para todos aqueles que estão almejando, é uma esperança para todos.

Amazônia Real – Como a notícia da prisão repercutiu na sua família?

Claudelice – Quando soubemos da notícia, rapidamente falamos entre nós, irmãos e outros familiares, e a sensação é de muita felicidade, um certo alívio, mas também de muita tensão. Estamos em alerta porque podem tentar alguma represália contra a gente.

Amazônia Real – Você deu a notícia para a Laísa, irmã da Maria?

Claudelice – Sim, a gente se emocionou juntas e ressaltamos o cuidado que a gente deve ter daqui pra frente umas com as outras porque nós temos medo. Embora a felicidade seja grande, a tensão também é grande.

Amazônia Real – Qual é o próximo passo?

Claudelice – Cuidar da família, proteger a família, cuidar ao máximo uns dos outros para a gente se sentir cada vez mais seguros nas nossas lutas. Mas, também, sentir a sensação de justiça com alívio, com tranquilidade e com um sentimento de que pelos nossos mortos não deve haver nenhum minuto de silêncio. E de que nossas lutas devem valer a pena.

Amazônia Real – Qual a mensagem que fica para quem está na luta?

Claudelice – Cortaram uma, duas árvores, mas mil, cinco mil outras árvores surgirão e assim a gente vai conseguir fazer com que o mundo tenha esperança, com que as pessoas vejam o futuro com olhos esperançosos e não com medo de perder a vida, com medo da motosserra por causa de ganância, de maldade, de simplesmente não concordar com a ideia de que o meio ambiente é vida e de que quem o defende também merece viver.



Maria do Espírito Santo e Zé Cláudio (assassinados em 2011). O sonho de José e Maria terminou logo após uma ponte, dentro do assentamento, com tiros de escopeta. Foto Felipe Milanez

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