Comunidade do Terreiro Caxuté, na Bahia, volta a ser alvo de ameaças por parte de Pastor da Igreja Ministério Restaurar

Comunidade Terreiro Caxuté

O pastor Francisco Pereira Roza, da Igreja Ministério Restaurar, vem realizando de forma reiterada atos de ameaça, racismo e intolerância religiosa contra a Comunidade do Terreiro Bantu-Indígena Caxuté.

Em seus cultos, o Senhor Francisco desrespeita as entidades ancestrais dos cultos de matriz africana (orixás, voduns, minkisis, exus, pomba giras, caboclos) associando-as com entidades negativas no panteão cristão, a exemplo, de diabos ou demônios. Membros da referida igreja já estiveram dentro do espaço do terreiro entregando jornais visando converter integrantes do terreiro à religião evangélica, em clara afronta à fé dos membros da comunidade.

No último dia 14 de setembro, o Pastor Francisco esteve na comunidade ameaçando – mais uma vez – derrubar a “Kitanda Bantu”. A kitanda é um espaço formativo, sagrado e ritualístico do território tradicional do Terreiro Caxuté e da Escola de Matriz Africana do Baixo Sul da Bahia. Na área funciona uma biblioteca comunitária (de livre acesso), um espaço de socialização e de exposição de produtos tradicionais do terreiro. A área está dentro dos limites da propriedade da comunidade, conforme os documentos cartoriais. Ademais, a construção está no local há cerca de 20 anos!

O uso da área pela comunidade nunca foi questionado pelo Senhor Francisco. O mesmo só começou questionar, recentemente, depois que passou a ver o terreiro como inimigo da sua igreja e da sua fé.

Mesmo após os apelos do Taata Kabirossi (Taata Kambondu do Terreiro) e de Mameto Kafurengá (Matriarca do Terreiro), para que ele buscasse a justiça se achasse que tem algum direito, o mesmo vociferou palavras ameaçadoras do tipo: “Quando vocês ver o estrago, um problema, vocês aqueta logo, porque eu mesmo nervoso eu faço”[…] “eu posso pegar o machado e meter aí e qualquer pessoa pode dar queixa de mim”[…] “Continua essa desgraça, porque eu vou derrubar, eu vou derrubar” […] “vocês vão ver se eu não vou derrubar esses pau em cima de vocês”.

Logo depois que a filmagem acabou a Senhora Jane, filha do Senhor Francisco, afirmou que “Quando Deus voltar e mandar fogo do céu, queimar tudo isso aí, vocês vão ver”.

Esses ameaças e atos criminosos de racismo e intolerância não começaram agora. Vejam os outros fatos:

  • Em outubro de 2018, o senhor Francisco comparece na comunidade acompanhado de um advogado e de um policial à paisana para intimidar a comunidade ameaçando retirar a Kitanda do local à força caso as lideranças da comunidade não o fizessem.
  • Em novembro de 2018, o Senhor Francisco dá uma queixa na delegacia, como forma criminalizar a comunidade e suas lideranças em razão da Kitanda. Após as investigações e demais atos processuais, o caso foi devidamente arquivado, demonstrando que não houve qualquer tipo de invasão ou esbulho por parte da comunidade do Caxuté.
  • No dia 06 de janeiro de 2019, quando o perito da polícia civil se fez presente no local para averiguação da situação, o Senhor Francisco fez outra ameaça à comunidade. Após o perito se colocar no sentido de que não viu qualquer indício de invasão, o Senhor Francisco se exaltou diante de várias pessoas afirmando que “se a polícia não desse jeito que ele resolveria a situação com as próprias mãos”, que “derrubaria ou colocaria fogo na Kitanda”.

O caso foi registrado na delegacia de Valença e vem sendo informado ao Ministério Público Estadual e à Secretaria Estadual de Promoção de Igualdade (SEPROMI). Aguarda-se uma atuação urgente dos órgãos competentes para impedir imediatamente a continuidade dos atos de racismo religioso e ameaça; para resguardar o direito à vida e à integridade física dos integrantes do terreiro; para garantir o direito ao livre exercício da religiosidade de matriz africana e o direito ao território da comunidade do Caxuté.

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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Táta Sobodê.

Itens sagrados em religião de matriz africana. Foto: Georgenes Sampaio / G1

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