Assentamento Califórnia, no Maranhão, é ameaçado de pulverização de veneno

Suzano Papel e Celulose informou que vai expelir veneno no topo das copas de sua plantação de eucalipto com um avião

Por Zé Luís Costa, da Página do MST

O assentamento Califórnia existe desde 1996, especificamente no dia 26 de março. Ele tem suas raízes na luta de trabalhadores e trabalhadoras rurais, moradores das cidades de Açailândia e Imperatriz, ambas no Maranhão, bem como famílias de outras cidades da mesma região, como São Francisco do Brejão, Buriticupu, Itinga e outras que, juntas, ocuparam a fazenda Califórnia nessa data.

A conquista da terra foi realizada em duas ocupações: a primeira com 250 famílias que, depois de despejados, se reorganizaram para reocuparem a fazenda com outras 850 famílias, entrando também no processo de desapropriação outras áreas das proximidades e criando assim outros projetos de assentamento. O maior deles é o PA-Açaí, que também fica na cidade de Açailândia e possui também a mesma luta e resistência. O PA-Açaí é dividido em cinco grandes agrovilas, enquanto o Califórnia tem apenas uma.

O assentamento Califórnia valorizou sua base. Durante muito tempo (e ainda hoje) sempre esteve ligado à luta do MST, com organização que faz parte desde sua origem, gerando vários militantes nessa luta pela reforma agrária. Nesse período, a partir do ano de 2005, o Califórnia passou a conviver com uma realidade muito complicada: o cultivo de eucalipto nas suas proximidades.

O cultivo de eucalipto nessa época era da Celmar (Celulose do Maranhão), uma empresa subsidiária da antiga Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale S/A. A princípio, naquele período, o plantio de eucalipto seria para produção de celulose em parceria com uma empresa japonesa. Só que esse projeto não vigorou, e a Vale partiu para utilizar o plantio de eucalipto para o fornecimento de carvão vegetal às siderúrgicas da cidade de Açailândia-MA e também às de Marabá, no estado do Pará.

Uma carvoaria industrializado foi instalada nas proximidades do assentamento Califórnia e passou a incomodar toda aquela comunidade. Entretanto, alguns militantes partiram para denunciar junto ao Ministério Público por conta da grande quantidade de fumaças que eram soltas sobre o assentamento Califórnia. Isso era ano de 2004 e 2005, aproximadamente.

Hoje o assentamento Califórnia se ver novamente ameaçado pelos grandes projetos do agronegócio, ainda com eucalipto, que hoje é da Suzano Papel e Celulose. Depois das dificuldades de relacionamento com a “vizinha” Vale nos anos já citado aqui, a Suzano Papel e Celulose comprou todo o plantio e as terras que estavam plantadas de eucaliptos no Sudeste do estado do Maranhão, instalando sua fábrica na cidade de Imperatriz.

Recentemente, no dia 24 de setembro, a empresa procurou os representantes do assentamento Califórnia apenas para informar que vai expelir veneno no topo das copas de sua plantação de eucalipto com um avião. Isso traz uma grande preocupação para os assentados dessa comunidade, porque o assentamento vive da agropecuária e das suas hortaliças.

E o que diz um olhar mais técnico? Quem opina é o engenheiro agrônomo Elias Araújo. Ele que também é assentado e integra o setor de produção do MST, no estado do Maranhão. “A lei protege e beneficia o envenenamento da natureza. As normas técnicas desta pulverização, seja pneumático, seja de outra forma, exigem distância mínima de 500m”.

Ele acrescenta dizendo que, mesmo sem saber o tipo do produto, as consequências dessa pulverização serão terríveis e que todo governo inteligente precisaria proibir ações do agronegócio de pulverização aérea. “As gotas de veneno viram partículas que se espalham pela corrente de ar e vão longe. Por isso é complicado, essas partículas pegam nuvens e tem-se nuvens carregadas de partículas de substâncias químicas”, conclui Araújo.

Maria Leonor Paes Cavalcanti Ferreira, em seu trabalho científico A Pulverização aérea de agrotóxicos no Brasil: cenário atual e desafios, publicado em 2014, apresenta o óbvio: essa ação traz sério danos à saúde e logicamente o veneno solto por avião. Mesmo que seja a uma distância significativa de 4 km a partir da agrovila, a ação vai, de alguma forma, impactar negativamente a produção e a saúde naquela comunidade.

*Editado por Fernanda Alcântara

Imagem: Pulverização aérea (Foto: Ricardo Ribas)

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