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As cachoeiras na região de Uiramutã, em Roraima, estão entre os principais pontos turísticos do estado. A água cristalina de cor esmeralda é um dos atrativos dessa área, que se localiza próxima à sede do 6º Pelotão de Fronteira do Exército Brasileiro. No entanto, as imagens mais recentes dessas quedas d’águas não poderiam ser mais diferentes: ao invés da água pura, o que corre das pedras é uma água barrenta e marrom. Por trás da nova cor está a explosão do garimpo ilegal nos últimos tempos, especialmente dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
Lideranças indígenas ouvidas por Fabiano Maisonnave, na Folha, acusam o presidente Bolsonaro de ter incentivado esse movimento, com promessas de legalização da atividade. Em Roraima, um dos entusiastas do garimpo é o senador licenciado Chico Rodrigues, que ficou famoso no ano passado ao ser flagrado pela Polícia Federal com dinheiro na cueca. Segundo a reportagem, Rodrigues visitou um dos garimpos ilegais em janeiro de 2020, quando ainda era vice-líder do governo Bolsonaro no Congresso Nacional, e elogiou o “trabalho fabuloso” que estava sendo feito pelos criminosos “sem danos ambientais”. No mês passado, a Assembleia Legislativa de RR aprovou a liberação do garimpo no estado sem a necessidade de estudos prévios ou restrição ao uso de mercúrio.
O temor de ambientalistas e de lideranças indígenas é de que, com o comando do Congresso Nacional nas mãos de aliados do Centrão, Bolsonaro consiga finalmente destravar a tramitação do projeto que regulariza o garimpo e outras atividades mineradoras em Terras Indígenas. Em editorial, a Folha contestou a proposta, indicando que, mesmo contemplando algumas exigências constitucionais (como a consulta às comunidades indígenas impactadas e sua participação nos resultados), ela não afasta a perspectiva de insegurança jurídica, “na medida em que afronta a lei e o espírito” da Constituição Federal. “O empenho do governo Bolsonaro na matéria tem alta probabilidade de revelar-se contraproducente. A medida atrairá a crítica internacional e, assim, tende a espantar empresas zelosas de sua imagem”.
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Foto de Chico Batata/Greenpeace