Fiocruz e Embrapa fortalecem agroecologia no território da Bocaina

Marina D. de Souza, Angélica Almeida e Natália Almeida, OTSS/Fiocruz

“A poupança do pobre é a roça, não é o dinheiro no banco não. É a alimentação na boca de nossas crianças, guardando nossas sementes tradicionais para as futuras gerações, e assim vai, porque a poupança do nosso povo tradicional é a comida no chão, a comida na mesa”. E não é qualquer alimentação: ao respeitar e preservar “o tempo” e “o jeito” da mata, Ana Cláudia Martins, a Cadinha, e outras famílias têm colhido frutos abundantes e cheios de saúde no Quilombo do Campinho da Independência, em Paraty (RJ). “Banana, aipim, taioba, inhame, limão, cambuci e vai vindo fruta que a gente plantou. São tantas frutas, tantas espécies, que eu nem lembro quantidade…”, ela conta. 

Para conhecer e fortalecer experiências como as de Cadinha, integrantes da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS/Fiocruz) e da Embrapa Agrobiologia realizaram (10 e 12/3) três dias de visitas sociotécnicas no território da Bocaina, envolvendo as comunidades do Quilombo do Campinho e da Aldeia Araponga, em Paraty (RJ), e do Quilombo da Fazenda, em Ubatuba (SP). A atividade integra o Projeto Ará, que no território da Bocaina vai mobilizar diretamente 19 comunidades quilombolas, indígenas e caiçaras, a fim de fortalecer a agroecologia, o turismo de base comunitária (TBC) e a economia solidária, além de estimular os processos de gestão de empreendimentos coletivos.

A partir da escuta ativa das comunidades, as equipes das organizações estão colhendo subsídios para o acordo de cooperação técnica (ACT) a ser firmado com a Embrapa Agrobiologia e Agroindústria de Alimentos. O objetivo é avançar na construção de respostas para as demandas específicas dos territórios, por meio da elaboração de planos de trabalhos coerentes com a realidade de cada lugar.

A coordenadora da incubadora de tecnologias sociais do OTSS/Fiocruz, Sidélia Silva, contextualiza que as roças visitadas estão em diferentes estágios de desenvolvimento e acompanhamento, e que as vivências permitem identificar possíveis gargalos no manejo ou no plantio nos roçados, bem como favorecem o intercâmbio de saberes entre as comunidades. “É a primeira vez que representantes da Aldeia Araponga vieram conhecer o Quilombo da Fazenda e a visita deles já gerou uma grande potência com relação ao roçado frutífero das agroflorestas, porque o plantio é de outra maneira. Integrando, a gente abre uma série de possibilidades de trabalho”, avalia. 

A engenheira florestal e pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, Eliane Maria Ribeiro, ressalta a relevância do envolvimento da organização na atividade e da construção junto às comunidades: “Para nós, foi muito importante a participação pelas trocas que tivemos durante esses dias. Não só pelas discussões dos agroecossistemas de produção alimentar, economia local e o turismo de base comunitária, mas também por perceber toda a pedagogia dos encontros. O projeto Ará cumpriu o que se propôs com a reunião, que é estarmos juntos com as comunidades”, pontua.

Próximos passos

As equipes da VPAAPS/Fiocruz e Embrapa também visitarão comunidades na zona Oeste do Rio de Janeiro, em conjunto com membros da Fiocruz Mata Atlântica, e em Petrópolis, com membros do Fórum Itaboraí. A partir do diagnóstico construído com os territórios, serão elaborados e executados os planos de trabalhos locais fortalecendo a parceria com a Embrapa. 

“A preparação e realização de uma atividade dessa complexidade nos faz superar desafios que foram ampliados com os entraves colocados pela pandemia. Perceber a evolução das práticas agroecológicas nos territórios da Costa Verde ao longo desses vinte anos, tanto no que se refere à adoção e apropriação de tecnologias agroecológicas quanto no que se refere aos processos de resistência e protagonismo das mulheres e da juventude, é exemplo de que cada território e comunidade têm diferentes tempos e percepções da agroecologia, sem contudo abrir mão de suas identidades e modos de vida, que são verdadeiros exemplos da relação harmônica sociedade e natureza”, avalia Claudemar Mattos, da equipe da Agenda de Saúde e Agroecologia da Fiocruz.

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Imagem: Projeto visa mobilizar diretamente 19 comunidades quilombolas, indígenas e caiçaras (foto: OTSS/Fiocruz)

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