Relatos indicam que mais barcos estavam subindo em direção aos garimpos e não o contrário; veja vídeos inéditos
Por Rubens Valente, Evilene Paixão, na Agência Pública
BOA VISTA – Uma operação desencadeada nesta semana na Terra Indígena Yanomami pela fiscalização do Ibama, com apoio da Funai e da Força Nacional, é a primeira incursão de agentes do governo no território desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva com o propósito de “retomar o território” e debelar o garimpo que levou a uma tragédia humanitária entre os indígenas durante o governo de Jair Bolsonaro. Pela primeira vez, o governo passou a reocupar bases que, nos últimos anos, haviam sido abandonadas pelo Estado ou tomadas pelos garimpeiros dentro do território. O primeiro ponto reocupado é estratégico no rio Uraricoera. Por ali passam barcos usados para o abastecimento de diesel e alimentos de inúmeros garimpos.
A ação do Ibama, que começou sob sigilo nesta segunda-feira (6) e foi revelada pelo órgão nesta quarta-feira (8), revela que a invasão garimpeira ao território indígena ainda está longe de ser resolvida, apesar de vários vídeos e mensagens disseminados em redes sociais e grupos de garimpeiros indicarem que uma parte dos invasores já começou a deixar a terra indígena. Mas a realidade encontrada pelos fiscais do Ibama, segundo apurou a Agência Pública, foi bem diferente.
Líderes indígenas da região relataram aos fiscais que, nos últimos dias, mais barcos estavam subindo em direção aos garimpos com combustíveis e alimentos do que no sentido contrário. A informação foi confirmada pelo Ibama, que já conseguiu apreender três embarcações com cerca de 5 mil litros de combustível que seria usado para o abastecimento dos garimpos. Além do combustível, os barcos apreendidos carregavam “cerca de uma tonelada de alimentos, freezers, geradores e antenas de internet”, como informou a assessoria do Ibama e do MMA (Ministério do Meio Ambiente). O volume de produtos demonstra a disposição dos garimpeiros de permanecerem nos locais de extração do minério.
Mensagens em grupos de garimpeiros também indicam que as atividades do garimpo seguem normais em outras partes da terra indígena, como na região de Mucajaí.
A incursão do Ibama no território Yanomami, batizada no Ibama de “Operação Xapiri”, referência a espíritos da floresta na cultura Yanomami, foi acompanhada de perto pelo presidente substituto do órgão, Jair Schmitt, que viajou a Boa Vista (RR). Durante a ação, os fiscais ambientais destruíram um helicóptero, um avião, cujas ligações com um empresário de Boa Vista (RR) serão investigadas, um trator de esteira, usado para abrir estradas na mata, e estruturas de apoio logístico ao garimpo. Foram apreendidas duas armas de fogo. A operação teve apoio de helicópteros modelo B4 do GEF (Grupo Especializado de Fiscalização) do Ibama.
A ideia da ação deflagrada pelo Ibama, Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e Força Nacional é estrangular o fornecimento de alimentação e de diesel aos garimpos abastecidos por barcos pelo rio Uraricoera. Os motores das dragas usadas para destruir a terra Yanomami funcionam com óleo diesel. A partir do decreto presidencial que determinou o combate ao garimpo, a Aeronáutica bloqueou o espaço aéreo na semana passada. Após reclamações de garimpeiros, a Aeronáutica abriu corredores aéreos, até o próximo dia 13, exclusivos para a saída dos invasores. Mas o abastecimento pelos rios continua um problema, que o Ibama agora procura atacar.
O plano é estabelecer bases em outros rios a fim de “garantir a permanência das equipes de fiscalização por prazo indeterminado”. O Ibama informou que também “fiscaliza distribuidoras e revendedoras responsáveis pelo comércio irregular de combustível de aviação que abastece os garimpos”. O Ibama trabalha com a hipótese de que a operação de desintrusão dos estimados 20 mil garimpeiros demore “vários meses”. O Ibama tem uma preocupação especial com áreas de garimpo dominadas por facções criminosas dentro da terra Yanomami.
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Foto: Ibama