Na terça-feira (11), homens atiraram contra um grupo de camponeses que faziam mutirão no Fecho de Pasto do Cupim. Ao todo, três pessoas ficaram feridas. Uma delas está em estado grave
Por Kleber Nunes, ASACom
Comunidades tradicionais do município de Correntina, no oeste da Bahia, foram mais uma vez vítimas da violência praticada por pistoleiros. Na última terça-feira (11), homens atiraram contra um grupo de camponeses que faziam mutirão no Fecho de Pasto do Cupim. Ao todo, três pessoas ficaram feridas. Uma delas está em estado grave.
Há pelo menos seis meses, as comunidades tradicionais de Correntina vêm sofrendo mais intensamente com ameaças, destruição de pastos e lavouras, e atentados contra a vida dos trabalhadores. A ASA Bahia junto com a Articulação de Agroecologia na Bahia (AABA), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Fórum Baiano da Agricultura Familiar, Movimento dos Atingidos por Barragens e a Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido divulgaram uma nota pública sobre essa realidade.
“Esse cenário não é novidade. Há anos ele vem crescendo diante dos olhos coniventes de governos estaduais e federal, que têm preferido o silêncio omisso à coragem de enfrentar a situação e os interesses do agronegócio que lucra com esta situação”, diz um trecho do documento.
As entidades, que formam a Articulação do Campo, expressam na nota a solidariedade com as famílias vítimas da violência e denunciam a ganância dos grileiros, que tentam expulsá-las de suas terras. Ao mesmo tempo, o grupo exige a imediata investigação dos fatos na esfera criminal, a adoção de medidas protetivas às comunidades e celeridade no processo de regularização fundiária da região.
Leia a nota completa:
NOTA PÚBLICA SOBRE O ATENTADO EM CORRENTINA
Sangue, emboscadas covardes, violência e ódio. Pistoleiros que aterrorizam comunidades tradicionais de Correntina, no oeste baiano abriram fogo na terça_feira (11/04) contra um grupo que fazia mutirão no Fecho de Pasto do Cupim. Três pessoas foram feridas, uma delas em estado grave.
A situação se repete naquele município, como em diversos outros lugares do estado: grileiros que querem arrancar a terra das mãos das comunidades tradicionais, que ali vivem e produzem há mais de duzentos anos, ameaçam seus moradores com violência a fim de expulsá-los do seu território.
Esse cenário não é novidade. Há anos ele vem crescendo diante dos olhos coniventes de governos estaduais e federal, que têm preferido o silêncio omisso à coragem de enfrentar a situação e os interesses do agronegócio que lucra com esta situação.
Estamos diante de dois modelos de sociedade: um que só deseja aumentar seu patrimônio, enriquecer mais e mais, e que no seu propósito de acúmulo predatório destrói a vida. Outro que defende bem viver para todos, respeito às pessoas e à natureza, para que todos e todas possam viver em paz, com qualidade e garantia de direitos.
Urge deixarmos bem claro qual é o nosso lado e nossa perspectiva de sociedade. Urge que o Governo da Bahia explicite publicamente sua posição e enfrente a situação nas suas múltiplas manifestações. O governador precisa acolher e dialogar diretamente com as comunidades para se inteirar do ocorrido e demonstrar seu apoio.
Conclamamos o governo a dar uma resposta digna e adequada. Já se passaram 16 anos de uma mesma orientação política na administração do estado e que ainda não conseguiu dar um basta neste tipo de situação.
É de extrema urgência uma investigação em nível policial e jurídico dos fatos mais recentes, mostrando a toda sociedade que na Bahia não cabe violência de nenhum tipo. O governo do estado deve estas providências a todos e todas que lutam e resistem cuidando da terra e das águas para seu sustento e das pessoas que ali convivem. A regularização fundiária dessas áreas é fundamental e não pode mais ser adiada, bem como a adoção de medidas de proteção às comunidades que, abandonadas a si mesmas, lutam sozinhas contra a covardia das armas mortíferas da grilagem.
Nós, integrantes da Articulação do Campo, através desta nota pública, queremos nos solidarizar com os companheiros e companheiras das áreas de Fundo e Fecho de Pasto – especialmente os atingidos no atentado – pela insegurança a que estão sujeitos, e queremos manifestar nossa revolta ante o fato de que estas ocorrências ainda existam na Bahia.
O Governo Jerônimo escolheu estar a serviço da vida e combater a fome no Estado. É incompatível com esta escolha deixar de tomar providências enérgicas ante os fatos que se apresentam.
Articulação do Campo – Bahia Salvador, abril de 2023