Com público estimado em mais de mil pessoas, 1º Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS) ocorre em setembro em Paraty (RJ) e propõe aprofundar o diálogo entre saber científico e tradicional para a promoção da saúde e do desenvolvimento sustentável.
No OTSS Bocaina
Já estão abertas as inscrições para o 1º Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS). Agendado para ocorrer entre os dias 9 e 15 de setembro de 2024 em Paraty (RJ), no litoral sul do Rio de Janeiro, o encontro representa um marco histórico na articulação de saberes científicos e tradicionais para a promoção territorializada da saúde e do desenvolvimento sustentável. Com o objetivo de desenvolver uma proposta político-estratégica de incidência internacional, o evento visa também posicionar as comunidades e povos tradicionais no centro das discussões climáticas globais, especialmente com vistas à COP 30, que será realizada no Brasil em 2025.
Com um público estimado em mais de mil participantes, incluindo 140 palestrantes nacionais e internacionais e cerca de 70 representantes de povos e comunidades tradicionais da América Latina e da África, o encontro trará conferências, mesas de debate, oficinas, vivências e visitas de campo organizadas em torno de cinco eixos principais: “Ecologia de Saberes para a promoção do Bem Viver”, “Oceanos e Rios – redes de vida e saberes”, “Saúde, resiliência e organização social”, “Educação, cultura e modos de vida” e “Articulação em Redes”. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.territoriosesaberes.org.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT). Também participam da construção do evento organizações como a Coordenação Nacional de Comunidades Tradicionais Caiçaras (CNCTC), a Coordenação Nacional de Comunidades Negras e Rurais Quilombolas (CONAQ), a Comissão Guarani Yvyrupá (CGY), o Colégio Pedro II (CPII), o Fundo Brasileiro de Educação Ambiental (Funbea), a Universidade Federal de Sergipe (UFS), o Fórum dos Pescadores em Defesa da Baía de Sepetiba, o Forum de Povos e Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira e o Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe, com apoio do Fundo Casa.
“Estamos construindo este encontro para fortalecer redes e debates que contribuam para garantir os direitos dos povos e comunidades tradicionais. Vamos pensar juntos saídas para um mundo mais justo e menos desigual, além de avançar em uma estratégia conjunta entre nossos movimentos e parceiros para Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que ocorrerá ano que vem aqui no Brasil”, destaca Vagner do Nascimento, integrante do colegiado de coordenação do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) e coordenador geral do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), uma parceria entre a Fiocruz e o FCT.
Construção coletiva
A programação do EITS se baseia na crescente necessidade de se articular diferentes formas de conhecimento para o enfrentamento de desafios globais comuns, como as mudanças climáticas, a segurança alimentar e as desigualdades sociais. Além disso, a programação destaca o papel vital dos povos tradicionais na preservação da biodiversidade, sublinhando que as áreas mais preservadas dos biomas globais são, frequentemente, aquelas protegidas por estas comunidades.
“O 1º Encontro Internacional de Territórios e Saberes promete ser um evento transformador, não apenas pela sua escala e diversidade, mas também pelo seu compromisso em colocar os povos e comunidades tradicionais na vanguarda das discussões sobre o futuro do planeta. Ao fazer isso, esperamos não apenas contribuir com as políticas públicas e as estratégias de promoção da saúde e do desenvolvimento sustentável, mas também fortalecer as redes de solidariedade e cooperação entre diferentes culturas e nações em busca de um mundo mais justo, equitativo e sustentável”, destaca Hermano Castro, Vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS).
Até aqui, já está confirmada a participação de 11 países: Argentina, África do Sul, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, França, Guatemala, México, Moçambique e Portugal. “Esse encontro tem uma relação direta com a nossa missão institucional e nosso compromisso social para o desenvolvimento sustentável. E, mais do que isso, na busca de soluções para a sociedade na articulação entre o conhecimento científico e o conhecimento popular. Esse diálogo, esse aprendizado coletivo, tem que ser a tônica da forma nova de lidar com o planeta Terra”, destaca Antonio Claudio, Reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Patrimônio da Humanidade
Outro fato importante do EITS é sua realização no Sítio Misto do Patrimônio Mundial da UNESCO em Paraty e Ilha Grande, título que só foi conquistado em decorrência do protagonismo dos povos e comunidades tradicionais ao longo de todo o processo de candidatura. Reconhecido pela UNESCO em 2019, trata-se do primeiro sítio misto da América do Sul onde se encontra uma cultura viva, uma vez que os demais sítios mistos do continente, como Machu Picchu, no Peru, são sítios arqueológicos em uma paisagem natural.
No caso brasileiro, o novo sítio abriga comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras que vivem da sua relação com a natureza, da pesca artesanal e do manejo sustentável de espécies da biodiversidade, atributos nominados pela própria UNESCO para o reconhecimento do sítio como bem de excepcional valor universal.
“Este encontro é muito importante para a gente discutir tudo que envolve nossa existência como povos e comunidades tradicionais. E o mundo precisa entender que nossa luta é uma luta de toda a humanidade, e que precisamos urgentemente nos unir”, destaca Julio Karai, assessor especial de articulação indígena do OTSS e integrante da coordenação da Comissão Guarani Yvyrupá.