O Pauderney está derretendo, por José Ribamar Bessa Freire

No Taqui Pra Ti

O Jornal Nacional se tornou, especialmente para muitos amazonenses, um programa de humor, provocando uma pororoca de gargalhadas cada vez que escala o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM, vixe, vixe) – e o tem escalado quase diariamente – para falar contra a corrupção. O riso não é porque Pauderney seja nome da erva viagra da floresta, como quer o Macaco Simão. É que muita gente não esquece a ficha do deputado. Até o opositor mais tenaz de Dilma ri, constrangido, ultrajado e envergonhado, quando a TV Globo, desinformando, amarra a canoa do impeachment nesse pau.  

Esse Pauderney, conhecido no Amazonas como Pau de Galinheiro – et pour cause – mata os amazonenses de rir na hora em que William Bonner lhe confere credibilidade, ocultando que em 1997 o nobre deputado do DEM era, segundo a Folha de SP, o homem da mala na compra de votos para a reeleição de FHC. De lá para cá, acumulou irregularidades, a última delas uma multa de R$ 4,6 milhões do TCE por alugar prédios com indícios de superfaturamento para sediar escolas, quando foi secretário municipal de Educação em Manaus. Ele recorreu, mas o pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto, pau honesto, garanto que nasce morto.

Demóstenes de Eirunepé

Ele, o Cunha de Igarapé, o Maluf de Eirunepé, o virtuoso Pauderney, travestido em paladino da moralidade, está agora perdidamente a-pai-xo-na-do por uma frase que repete, posudo como um pavão, em transmissões insistentes da mídia eletrônica:

O Brasil está derretendo – declama ele mascarado de honesto. Na realidade, quem frita a pátria mal amada é justamente quem diz que ela derrete, porque desta forma aciona a potência máxima do micro-ondas verde-amarelo. Tal discurso, que não contribui para resolver o problema, aumenta a desesperança dos brasileiros crédulos com medo de serem sugados pelo ralo da crise econômica.

Tem gente apaixonada por pessoas, animais, comida, causas. Pauderney se apaixonou pela frase “O Brasil está derretendo”, que pronuncia com os olhos rútilos, os lábios trêmulos, a cara de gozo, com orgasmos cósmicos, como se o autor fosse ele e não o outro pato, o da FIESP. Acha que, repetindo-a, derrete a nossa memória. Dou meu pescoço francês pra caba ferrar se essa frase ficar de fora do seu discurso em rede nacional de rádio e televisão no programa do DEM que irá ao ar na próxima quinta (14) por volta da 19h30. Fiquem atentos. É imperdível. Você vai rolar de rir.

A figura central do programa do DEM é o próprio Pauderney, que se acha grande orador. Afinal, aos dez anos, em 1964, ele venceu o Concurso de Oratória promovido pela Escola Municipal Armando Mendes, de Eirunepé (AM), onde nasceu. Já que a cidade é conhecida como a Atenas do Juruá, os organizadores da Festa do Açaí, lá realizada anualmente em abril, ungiram e sacramentaram Pauderney como o “Demóstenes do Alto Juruá”. É esse grande tribuno com projeção internacional que, ao lado de figuras impolutas como Cunha e Jucá, comanda o impeachment de Dilma.

A biografia de Pauderney, formado em Engenharia Civil na Universidade Federal do Amazonas (antiga FUA, hoje UFAM), registra que ele foi condecorado pelo Governo da Itália como “Cavalieri di Gran Croce”, indicado provavelmente pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, mais tarde condenado em primeira instância a três anos de prisão por corrupção.

Talvez seja recomendável que William Bonner leia o que publicou O GLOBO em maio de 1997 sobre o atual líder da minoria no Congresso Nacional, que é um dos sócio-fundadores da Construtora Capital S.A e ocupou o cargo de Diretor da Federação das Indústrias do Amazonas. A manchete foi: “Escândalo no Congresso: Ligações estreitas de autoridades com empresários não espantam ninguém no Amazonas”. A notícia revela o loteamento do Estado entre várias empreiteiras, entre as quais a Capital dos irmãos Pauderney e Pauderley. É pau pra cacete.

corrupcao am pauderney

Mostrando o pau

Os demais jornais de circulação nacional embarcaram na mesma direção:

FOLHA DE SP: “Amazonino compra deputados do Acre em troca da nomeação do Superintendente da Zona Franca de Manaus. Pauderney era o intermediário: sondava quem estava disposto a negociar”.

ESTADO DE SP: “Empreiteira da família Cameli foi beneficiada por Amazonino”.

JORNAL DO BRASIL – “Zona Franca é pivô da discórdia. Escândalo da venda de votos traz à tona disputa pelo domínio da Suframa”.

Recentemente, no Caderno comemorativo de 95 anos da Folha de SP, o jornal destacou 95 furos de reportagem que deu ao longo de sua história, um deles foi justamente o escândalo da compra de votos dos congressistas para aprovar, em 1997, a PEC que garantiu a reeleição de FHC e de governadores, entre os quais Amazonino Mendes, então no PFL. O jornalista Fernando Rodrigues ganhou o Premio Esso 1997 por haver revelado conversa telefônica entre o deputado federal Ronivon Santiago (PFL-AC) afirmando que havia recebido R$ 200 mil para votar na PEC.

A gravação contém ainda conversa de Ronivon dando os nomes dos compradores de seu voto e indicando o envolvimento de Pauderney nessa história como pau mandado e pagador da propina do então governador do Amazonas a deputados federais. Na conversa gravada pelo empresário Narciso Mendes, o deputado pelo Acre João Maia (PFL) conta como vendeu o seu voto e delata Pauderney (FSP – 13/05/1997), dando os nomes de outros deputados que venderam seus votos.

“Eu tô sabendo que aquele negócio ali foi muita gente. Todo mundo pegou na faixa de 200, 300 mil…Todo mundo pegou… Teve gente que negociou pagamento de banco, negociou todo deputado aí…Todo mundo” – diz Ronivon na gravação .

Está tudo gravado e comprovado, mas o PSDB no poder não deixava cair nas malhas da lei nem mosquito ensebado. Nada contrário ao governo se investigava. Ronivon Santiago e João Maia renunciaram ao mandato. Pauderney salvou a pele, porque o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, o engavetador-geral, arquivou todas as denúncias de um dos maiores escândalos da República. Tudo foi varrido para debaixo do tapete.

Graças ao engavetamento, os telejornais podem agir hoje como a advogada Janaína Paschoal:

 – Vocês querem ser governado pela cobra? Não! Então matem a cobra e mostrem o Pauderney.

Suspeito que o Brasil vai pagar caro, muito caro, por permitir que Eduardo Cunha, réu criminal por corrupção e lavagem de dinheiro, comande esse processo, acolitado por Jucá, Pauderney, Paulinho da Força, Paulo Maluf e tantos outros paus, todos figuras ilibadas que constam nas listas de propinas das construtoras. Dá para desconfiar tanto entusiasmo contra a corrupção. Se eles retomam o Executivo, vão abafar tudo.  Que Nhanderu nos proteja.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

17 − doze =