Para estudiosos no AM, índios ainda são tratados como ‘subcidadãos’

Antropólogo e sociólogo relataram a G1 principais desafios dos indígenas. Especialistas afirmaram que problema indígena é grave e merece atenção.

Do G1 AM

Há 73 anos era celebrado, pela primeira vez, o Dia do Índio no Brasil. Implantado no dia 19 de abril, a data prevê a conscientização e valorização da cultura indígena no país. Apesar disso, especialistas ouvidos pelo G1 afirmam não haver motivo para celebração e que indígenas são tratados como “subcidadãos”. O antropólogo Ademir Ramos e o sociólogo e cientista político Carlos Santiago relataram as dificuldades e lutas dos povos indígenas no Amazonas.

Em março deste ano, a relatora das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, visitou cerca de 50 povos indígenas para identificar e avaliar as principais questões atualmente enfrentadas pelos povos indígenas do país.

A relatora identificou os principais desafios enfrentados pelos povos indígenas no país, como questões territoriais, de saúde, de segurança, entre outros pontos por ela levantados durante a visita.

No Amazonas, estado com a maior população indígena do país, a situação não se difere do resto do país. De acordo com o antropólogo Ademir Ramos, não houve avanços consideráveis no que se diz respeito às políticas públicas voltadas aos direitos indígenas.

“O que acontece hoje no Brasil, particularmente na Amazônia e no Amazonas, é que há um processo migratório intenso do território indígena para as cidades, porque o governo brasileiro, na verdade, não fez nenhum investimento em política, em programas de etnodesenvolvimento, isto quer dizer, uma política para fomentar a produção e o desenvolvimento dessas populações em suas próprias terras”, afirmou.

Para o sociólogo e cientista político Carlos Santiago, a questão indígena no Amazonas é grave e precisa de atenção governamental. “Mesmo com a população indígena no Amazonas ser a maior população indígena no país, não se vê um representante dos povos indígenas na Assembleia Legislativa do estado. Você não vê representantes dos povos indígenas em postos estratégicos, em postos de poder, de decisão. Você não vê, no ordenamento jurídico, políticas públicas direcionadas a defender as populações indígenas”, disse.

Após a visita, a relatora da ONU identificou ainda questões a serem corrigidas na área de prestação de cuidados à saúde, educação e serviços sociais. Para Ramos, o Amazonas sofre com falta de escolas indígenas de qualidade e atendimentos de saúde suficientes.

“Quanto à questão da saúde, o governo brasileiro trata os indígenas como subcidadãos. A saúde indígena está na mão de ONGs, quer dizer, é uma ONG que contrata médicos, enfermeiros e assistentes. Na educação, as escolas estão precárias e os professores indígenas recebem muito mal. Nós temos 964 escolas indígenas no Amazonas, onde 45 são do estado, o resto é do município e o município não tem recurso”, afirmou em entrevista ao G1.

Ainda segundo o antropólogo, outras questões também afetam os indígenas, principalmente os que já residem na capital. Os índices de alcoolismo, aborto por conta de bebidas alcoólicas e suicídio vêm aumentando constantemente. “A partir do momento que eles [índios] entram em contato com a sociedade regional, eles adquirem todos os vícios, e o movimento indígena está enfraquecido porque foi isolado das questões sociais”, contou Ramos.

Ainda segundo os especialistas, não há o que comemorar neste Dia do Índio. Em um momento onde o desaparecimento das línguas e da cultura indígena continua evoluindo no Amazonas, não há motivos para a total celebração da data.

“Não temos motivo nenhum para comemorar, pelo contrário, deveria ser um espaço de reflexão, e que as lideranças que estão à frente do movimento poderiam se reunir, fazer uma autocrítica e planejar estratégias de como avançar, sobretudo nesse momento de mudança que nós estamos vivendo no Brasil”, disse o antropólogo Ademir Ramos.

Para Santiago, indígenas são patrimônio cultural do estado e criticou a falta de atenção às pesquisas voltadas ao âmbito cultural. “Eu tenho muito é a lamentar de que os nossos irmãos, pessoas que têm uma riqueza enorme, inclusive uma riqueza que não tem em parte alguma do mundo, que é uma cultura diferente, de uma riqueza de linguagem, uma riqueza de manifestação cultural, e nós simplesmente desprezamos essas comunidades fazendo com que elas saiam das suas tribos, e venham para Manaus. Não há o que celebrar”, afirmou.

Imagem: Amazonas tem o maior número de indígenas em todo o Brasil, afirmam especialistas (Foto: Indiara Bessa/G1 AM)

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