Massacre de MS: enquanto senador culpa caminhão e Sindicato Ruralista acusa índios, Hospital garante estado dos baleados

No luto, luto!

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Ontem, enquanto as pessoas decentes deste País que não se alimentam através da imprensa vendida (e vendedora) se indignavam com as notícias de Caarapó, Mato Grosso do Sul, um senador pelo estado – Waldemir Moka (PMDB-MS) – afirmava, no Congresso, que as informações sobre o massacre contra os Guarani e Kaiowá eram incorretas. Segundo ele, a verdade era que um caminhão tentara romper barreira erguida pelos indígenas e acabara atropelando um grupo. Em consequência, um dos ‘bugres’ (epíteto com o qual a nobre elite do centro-oeste sul trata os indígenas, não usado por ele, mas por mim, aqui, por conta da raiva) morrera. Ainda segundo o ínclito senador, na sequência os índios “agrediram policiais e depredaram um posto de polícia”.

Hoje, a nota do Sindicato Rural de Caarapó não foi menos criativa. Vejamos: tudo o que está sendo noticiado pela mídia alternativa (e talvez por parte da empresarial, a bem da verdade), nada vem sendo que uma “distorção de notícia”. A saber: 

Não houve conflito. Ninguém foi morto. Não houve sequer “disparo de armas de fogo”. Os “proprietários e moradores” é que “tiveram que sair corridos, perseguidos pelos indígenas”. E houve ainda “três policiais militares torturados”! E mais: “os produtores dessa região sempre tiveram bom relacionamento e boa convivência com os indígenas – inclusive, são doadores de gado para as festas tradicionais … que acontecem na reserva”. (AQUI).

Pois bem: temos então um incrível caminhão que dispara balas com destino preciso. E atinge com perfeição o peito do ‘bugre’, matando-o!

Desculpem qualquer exagero motivado pela revolta, mas estamos chegando a um ponto em que fica cada vez mais difícil ter orgulho de aqui ter nascido. De ser brasileira.

Sem mais delongas e em primeira mão, aí vai um relatório sucinto dos estragos causados pelo tal caminhão do atropelamento senatorial. A ser acrescido, talvez, à listagem das “notícias distorcidas”.

Opto por publicar sem maiores comentários, com a única preocupação de preservar as fontes, a listagem das pessoas internadas e dados sobre as lesões por bala quer sofreram:

***

Condições clínicas dos 5 feridos internados no Hospital da Vida em Dourados/MS

Óbito: agente de saúde indígena (AIS) Cloudione Rodrigues Souza, de 26 anos, morto a tiros.

Pacientes internados na Enfermaria da Clínica Cirúrgica:

  • Josiel Benites, 12 anos. Ferimento penetrante por 1 projétil de arma de fogo, que causou lesões no rim E, intestino e perfuração gástrica. Após procedimento cirúrgico, está com sonda nasogástrica (SNG) e dreno no local da incisão cirúrgica;
  • Jesus de Souza, 29 anos. Ferimento penetrante por 1 projétil de arma de fogo, que causou lesões no baço, fígado e intestino grosso e delgado. Após procedimento cirúrgico, está com dreno no local da incisão cirúrgica e Sonda Vesical de Demora (SVD);
  • Libercio Marques Daniel, 42 anos. Ferimento superficial por 4 projéteis de arma de fogo, que causou lesões no ombro, braço, crista ilíaca e região occipital (cabeça). Projéteis estão alojados nos locais citados. Não houve intervenção cirúrgica para remoção;
  • Valdilirio Garcia, 26 anos. Ferimento penetrante por 1 projétil de arma de fogo, que causou lesão no pulmão e pleura. Está com dreno de tórax para drenagem de líquido da cavidade pulmonar;
  • Norivaldo Mendes. Ferimento superficial por 1 projétil de arma de fogo, que causou lesões no tórax. Não necessita de intervenção cirúrgica.

 

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