Guilherme Boulos é detido por negociar ajuda a 700 famílias desalojadas hoje em SP

Reintegração de posse na zona leste de São Paulo termina com 3.000 famílias nas ruas e detenção de Guilherme Boulos

Na Mídia NINJA

O dia 17 de janeiro amanheceu com mais uma reintegração de posse em São Paulo, na zona leste da capital. Após uma madrugada em claro, sob chuva e medo, cerca de 3.000 pessoas, entre crianças e idosos, foram violentamente removidas das casas que construíram há um ano e meio na ocupação Colonial, em um terreno abandonado localizado no extremo leste de São Paulo.

A ordem de despejo partiu da prefeitura, que deixou de lado qualquer tipo de assistência às famílias que viviam no local. Diante disso, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto esteve presente logo no início da manhã em apoio à ocupação e em defesa dos direitos dos moradores e, por volta das 7 horas, pediu aos oficiais de justiça que aguardassem a análise de um pedido do Ministério Público ao juiz responsável pela ação para adiamento da reintegração até ao menos o cadastro das famílias ser efetuado em algum programa de assistência municipal.

A Tropa de Choque se recusou a aguardar o parecer do juiz e, por volta das 8h20 da manhã, avançou sobre os moradores e movimentos sociais que resistiam no local. Há relatos de militantes presentes no ato de que fotógrafos que registravam a ação foram encurralados e de que foram efetuados disparos de bala de borracha à curta distância.

“A gente não tem pra onde ir e eles não tão ligando pra isso, minha filha tá na casa do pai dela agora, mas a gente não tem pra onde ir…” relatou a moradora Emily, emocionada e nervosa, ao ver a destruição do seu lar. Emily, que está na ocupação Colonial desde seu início, em 2015, não recebeu nenhum tipo de assistência para ela e sua filha de 3 anos.

Detenção de Guilherme Boulos e perseguição

O coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, foi detido por volta das 10 horas da manhã após a ação de reintegração. Os motivos apresentados pela Tropa de Choque da polícia militar para detenção foram incitação à violência e desacato a autoridade. Boulos, no momento da prisão, negociava o mínimo de assistência para as 700 famílias desamparadas e o direito delas retirarem seus pertences do local.

Ao ser questionado pela ação, o comandante da Tropa de Choque afirmou manter gravações de Guilherme Boulos desde o ato da Frente Povo Sem Medo realizado em maio de 2016, em frente a casa de Michel Temer, em São Paulo. Guilherme teve o celular confiscado pela PM enquanto aguardava para dar depoimento na 49º Delegacia de Polícia.

A tentativa de prisão é uma clara ação de repressão e perseguição política aos movimentos sociais, em especial aos movimentos de luta por moradia. Durante as eleições municipais, o então candidato João Dória afirmou que teria ‘tolerância zero’ com movimentos como o MTST. A ação capitaneada pela prefeitura de Dória usou o aparato estatal de segurança pública, cujo comando pertence ao governador parceiro Geraldo Alckmin (PSDB).

No momento, Guilherme Boulos já prestou depoimento e segue aguardando o depoimento da PM, junto com José Ferreira, também coordenador do MTST e detido na ação.

Reincidência da violência

Não é a primeira vez nesse ano que a polícia restringe os direitos e a liberdade do cidadão e ataca militantes. No último sábado, a polícia militar avançou violentamente e sem mandado judicial sobre uma ocupação do MTST que já havia sido consolidada na Zona Norte da capital. Na ocasião, dezenas de celulares foram apreendidos.

Repercussão

Assim que a notícia da detenção de Guilherme Boulos foi confirmada, em pouco tempo seu nome já estava em primeiro lugar no Trending Topics da rede social Twitter e em sétimo lugar no Trending Topics Mundial. Boulos, que é um defensor assíduo pelo direito à moradia e dos direitos humanos, reconhecido globalmente pelo seu trabalho, recebeu milhares de mensagens de apoio.

A prisão de Boulos é a representação clara da perseguição e o agravamento da criminalização que os movimentos sociais estão sofrendo, desde que esse governo austero assumiu de forma ilegítima.

 

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