Ritual Krenyê: ocupação e luta em defesa do território no Maranhão

Reportagem/Imagem: Andressa Zumpano – CPT Maranhão

Na tarde desta sexta-feira, 23 de fevereiro, o povo Krenyê ocupou o território no município de Tuntum, no Maranhão. Esta ocupação tem como objetivo pressionar a Fundação Nacional do Índio (Funai) para o pagamento de indenização aos proprietários da terra, o grupo empresarial SC Agro Florestal LTDA.

Os Krenyê vêm pleiteando um território desde o ano de 2013, visto que a sua terra originária, a Pedra do Salgado, localizada em Vitorino Freire, já se encontra em grande processo de degradação ambiental. “La na Pedra do Salgado, hoje é tudo pasto, está tudo devastado. Lá também já fica dentro da cidade. Lá onde era o nosso lugar sagrado que os antepassados faziam os rituais”, conta Côr-tetêto Krenyê.

A licitação para compra do território Krenyê foi aberta no ano de 2015, sendo o procedimento de vistoria e escolha do território concluído pela Funai em 2017. Nesse mesmo ano, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) realizou a avaliação do imóvel, que está estimado em aproximadamente 14 milhões de reais, para uma área de 8 mil hectares. Todo o processo já foi concluído e a compra da terra liberada, restando apenas a execução do pagamento pela União.

O povo Krenyê se autodeclarou, para fins de demarcação, no ano de 2009, no entanto a luta por território já se estende por mais de 80 anos. Com a expansão da cidade, aqueles que viviam no território originário da Pedra do Salgado passaram a residir em outras Terras Indígenas e na periferia da cidade de Barra do Corda em uma pequena área de aproximadamente um hectare de terra. Desse modo, a ocupação e titulação de um novo território se faz necessário para o resgate histórico e a sobrevivência deste povo. “Nós estamos lutando por todos os parentes, porque eles estão morando em uma aldeia que não é deles próprios. Por isso, nós estamos lutando. É para todo povo Krenyê. Nós não vamos desistir pois nós estamos com coragem e força”, afirma Payrê Krenyê.

A ocupação conta com apoio da TEIA dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, quem tem como sua principal bandeira a defesa dos territórios e a luta pelo bem-viver.

Comments (1)

  1. Por que a demarcação das terras indígenas é importante ? A resposta a essa pergunta pode ser encontrada nos semáforos da maioria das capitais dos estados brasileiros, onde pedintes esmolam trocados para garantir a refeição do dia. Se prestarmos atenção notaremos, no meio dos marginalizados, um representante dos povos indígenas. Na maioria das vezes oferece cestos coloridos de vime; vende colares e está acompanhado por esposa e por crianças pequenas que circulam arriscadamente entre os carros a pedir moedas. É isso que acontece quando o agronegócio invade terras indígenas: a floresta é derrubada e substituída pela monocultura de soja ou de milho; o gado é trazido para pastar e os índios – seculares donos das terras – são expulsos, primeiramente para cidades próximas, depois para metrópoles. Num ambiente desconhecido para eles, o urbano, os indígenas sofrerão inevitáveis processos de perda de identidade cultura, desagregação social e desestruturação familiar. O pai procurará serviços que requerem menor qualificação profissional como bóia-fria, desossador de frigorífico, ajudante de serviços gerais ou será um desempregado permanente; a mãe trabalhará como faxineira, empregada doméstica ou, na melhor das hipóteses, manicure, enquanto a filha provavelmente será mãe solteira nos primeiros anos da adolescência, interrompendo a formação escolar que poderia tira-la da situação de marginalidade a que são submetidos os índios depois de serem expulsos de suas terras pelo agronegócio e migrarem para as cidades. É por isso que a demarcação das terras indígenas é importante.

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