Por Anselmo Ferreira, Comissão Pastoral da Terra – Diocese de Juazeiro
Na terça-feira, dia 21 de Agosto, cerca de 60 pessoas, lideranças e representantes de 15 comunidades fizeram uma visita no território de fundo de pasto de Angico dos Dias, município de Campo Alegre de Lourdes, com o objetivo de apoiar e fortalecer a luta e organização da comunidade e também trocar experiências em relação aos impactos sofridos pela mineradora Yara/Galvani. Outro objetivo foi debater a questão do associativismo comunitário para fortalecer as comunidades tradicionais que vem sendo cobiçadas por grandes empresas capitalistas.
As comunidades presentes nessa visita foram: Baixão dos Bois, Sítio Novo do Pedrao, Pedra Comprida, Lagoa do Arroz, Barreiro do Espinheiro, Baixão do Calixto, Ramalho, São Gonçalo, Santa Úrsula, Baixão Grande, Baixãozinho, Baixão Novo e Assentamento Chico Mendes.
Durante a atividade, foi feito uma visita na lagoa da comunidade, onde antigamente as pessoas utilizavam a água até para beber, e infelizmente hoje, por causa da grande poluição provocada pela mineradora, a água está totalmente imunda, impossibilitado seu uso e prejudicando a saúde dos animais que vivem à solta e bebem da água. Sem contar que além de envenenar, a empresa ainda fez uma grande canaleta em torno da aguada, o que impossibilita que a água da chuva chegue até a lagoa, que se encontra com um nível de água bem baixo.
Depois foi realizada uma visita no local onde a empresa pretende instalar a barragem de rejeitos, onde foi possível notar outro descaso ambiental. As pessoas ficaram impressionadas com o tamanho da devastação praticada pela Yara/Galvani. Uma área de terra que, segundo os moradores , possuía muitas árvores de grande porte e diversidade, mas que infelizmente foram todas destruídas em nome do avanço capitalista da empresa. A futura gigantesca barragem, com extensão de mais de 3 km, passa bem próximo a algumas comunidades, que vivem inseguras e desassossegadas com tamanha ameaça.
Logo após a visita nesses dois locais, de muitos que são impactados, houve um debate no salão da associação comunitária local. Alguns moradores relataram suas preocupações e dificuldades que passam refém dessa mineradora. Alguns já perderam seus animais, outros perderam suas roças que não servem mais para plantar (poluídas por rejeitos da mineradora), e grande parte perderam a saúde em meio a tanta poeira e preocupação de perder suas terras e suas raízes, já que a empresa avança cada vez mais, tomando o espaço das famílias.
A jovem Samara Batista de Sousa, da comunidade Baixão dos Bois, relata que ficou impressionada com o cenário que viu em Angico dos Dias: ” Eu nunca tinha visitado uma comunidade onde tem mineradora, mas hoje vim aqui e vi essa situação. A água bastante suja, nem parece água, tenho é dó do bichinho que beber dela. Um bocado de terra desmatada pra jogar o lixo que a mineradora produz, é muita gente da comunidade sofrendo e perdendo a saúde por causa da poluição. É muito triste ver isso. Infelizmente pra esse povo rico a vida das pessoas não têm importância. Mas é necessário que a gente se junte e se organize para nos defender dessas ameaças que não traz nada de bom para as comunidades.”
Antônio José da Silva, presidente da Associação de Fundo de Pasto da comunidade Baixão Grande, diz que é grande a dificuldade de viver ameaçado e prejudicado pela mineradora. “Não temos mais sossego por aqui, a Galvani todo dia querendo obrigar a gente vender nossas terras. Além da grande poluição, ainda tem essa barragem de rejeitos aí que vai passar no pé das nossas comunidades e prejudicar muito mais do que já tá prejudicando.”
O presidente da Associação de Angico dos Dias Edinei Dias Soares comenta que fica feliz com a visita das comunidades, pois fortalece e anima a luta contra as ameaças e impactos que a comunidade Angico e as outras vizinhas sofrem.
Os encaminhamentos que ficaram em concordância da atividade foram a continuidade do apoio às comunidades impactadas pela mineração, seja através de intercâmbios, protestos, atividades; uma visita na comunidade Pedra Comprida que também sofre ameaças de mineração, principalmente no morro Tuiuiú; e a conscientização das pessoas em geral para que fiquem cientes e alertas sobre esses processos antissociais que visam a exploração de nossas comunidades.
A visita foi um momento importante e construtivo que possibilitou que algum pessoas, em especial parte da juventude, a estarem entendidos sobre o assunto de grilagem e mineração, além de dar forças quem tá sendo prejudicado com tais projetos e mostrar que essa luta é de todas as comunidades.
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Foto: CPT Ruy Barbosa.