Movimento indígena rebate Bolsonaro sobre uso de dinheiro público em protesto

Sônia Guajajara explicou que o Acampamento Terra Livre 2019 criou três “vaquinhas” virtuais para pagar o evento, além de promover campanhas para arrecadar alimentos e colchões

Por Folhapress, na Gaúcha ZH

Responsável pela organização do Acampamento Terra Livre (ATL), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) rebateu o presidente Jair Bolsonaro e afirma que não recebe dinheiro público para organizar a mobilização, realizada há 15 anos no mês de abril, em Brasília.

— Nunca o ATL recebeu um centavo de recursos públicos para fazer essa mobilização. É uma iniciativa dos próprios parentes (indígenas), que se organizam o ano inteiro para chegar a Brasília — disse à  reportagem Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib.

Em live no Facebook na quinta-feira (11), Bolsonaro afirmou: 

— Vai ter um encontrão de índios agora, semana que vem. Tá sendo previsto 10 mil índios aqui em Brasília. E quem vai pagar a conta dos 10 mil índios que vem para cá? É você (contribuinte). Queremos o melhor para o índio brasileiro, que é tão ser humano quanto qualquer um de nós que está na sua frente aqui. Mas essa farra vai deixar de existir no nosso governo.

Após a transmissão ao vivo no Facebook do presidente, a líder indígena se manifestou via Twitter sobre o assunto, afirmando que Bolsonaro “continua incitando a sociedade contra os povos indígenas”:

Guajajara, ex-candidata a vice-presidente pelo PSOL, explicou que o ATL 2019 criou três “vaquinhas” virtuais para pagar a mobilização: uma para doações nacionais, outra para doações estrangeiras e uma terceira para milhas de avião. Além disso, há campanhas para arrecadar alimentos e colchões.

— É dinheiro de quem contribui com as causas indígenas: pessoas físicas e organizações da sociedade civil, do Brasil e do Exterior.

A líder indígena afirma que as delegações se organizam de forma independente em seus estados de origem para fazer a viagem até Brasília. Em alguns casos, explica, houve apoio de governos estaduais, mas que se trata de uma negociação em nível local. Nos últimos anos, o ATL tem mobilizado em média cerca de 4 mil indígenas.

Para Guajajara, o ATL, que acontece entre os dias de 24 a 26 de abril, ocorrerá em um clima de “maior preocupação por conta da própria decisão do governo de agir de forma truculenta, repressiva, com os movimentos.”

— Estamos com medo da repressão da polícia, mas nós nunca vamos recuar — afirmou.

Participante do ATL em anos anteriores, a única deputada federal indígena do país, Joenia Wapichana (Rede-RR), afirmou que, “se os povos estão vindo, com seus recursos próprios e de apoiadores da causa indígena, é porque têm o seu direito de ir e vir, principalmente, de se manifestar”.

— O novo governo está violando direitos indígenas com a MP 870 (que passa a demarcação para o Ministério da Agricultura), ameaçando diminuir terras indígenas e facilitar para que terceiros explorem os recursos naturais que existem nas nossas terras. O que ele esperava? Que os povos indígenas ficassem quietos? Se são 10 mil índios, são 10 mil insatisfeitos com o que está acontecendo — afirma Joenia.

A reportagem pediu um esclarecimento do pronunciamento de Bolsonaro ao porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) discursa durante a Mobilização Nacional Indígena em Brasília, abril/2015. Foto de Fábio Nascimento.

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