Os movimentos sociais no debate da resistência

Por Laudenice Oliveira – Núcleo de Comunicação do Centro Sabiá, na ASA

O IV Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores/as encerra seu terceiro dia de atividade com uma mesa de diálogo entre os movimentos sociais do campo. Em debate, o momento atual em que a democracia e os direitos de trabalhadores e trabalhadores estão em xeque e a resistência é necessária. “O movimentos sociais têm o papel importante de apoiarem e construírem conosco esse mundo camponês”, diz Roselita Vitor, do Pólo Sindical da Borborema, na Paraíba, que coordenou a mesa.

Anderson Amaro dos Santos, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), abriu o debate alertando que a conjuntura exige de todos uma postura ativa, de reflexão e de não se calar. Ele afirma que a crise pela qual o Brasil passa não é apenas política. “Ela é ecológica, social e política”, diz categórico.

Para o representante da Confederação dos Trabalhadores na Agricultora (Contag), Wilian Clementino, é preciso tratar sim de política com a base. “Foi por não falar de política que chegamos a isso que tá aí”, atesta Willian. Ele avalia que, apesar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) ter avançado em algumas políticas, a reforma agrária ficou aquém. Mesmo assim, defende o seu retorno. “Se acabar o MDA a gente vai para rua hoje, amanhã, depois e até o MDA voltar”, convoca.

As mulheres e sua incidência política – Verônica Santana, do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR/NE), destacou a necessidade de frear o golpe para que se possa avançar nas políticas. Ela destaca que a questão da mulher precisa ser assumida pelas mulheres porque todos os dias elas são violentadas. Ela avalia, entretanto, que a luta das mulheres já avançou bastante. “Antes não éramos vistas como sujeitos políticos revolucionários. Mas nos organizamos e assumimos nossa luta. Hoje fazemos incidência política no Nordeste, somos reconhecidas como trabalhadoras rurais. O que fazemos é trabalho produtivo, não é ajuda”, afirma Verônica. Ela destaca as três linhas de incidência e defesa que hoje o movimento defende: “a soberania alimentar, a agroecologia e a economia solidária”.

João Paulo Rodrigues, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ressaltou a importância do encontro e do debate sobre as sementes crioulas. “Talvez as sementes seja o debate radical que precisamos fazer porque nós camponeses precisamos fazer esse enfrentamento”, destaca. Ele afirma ainda que não se pode perder de vista a luta pela democratização da terra, pela reforma agrária. “É preciso discutir a propriedade privada da terra”, defende. Outro debate que, segundo ele, precisa ser feito é o do alimento saudável. “É uma forma de levar nossa luta para a sociedade. Levar o desafio de produzir alimentos de qualidade, sementes de qualidade”, reforça. Diz, inclusive, da importância da aliança campo e cidade, da necessidade de debater a agroecologia para que o campo não seja visto apenas como um lugar para se produzir. “Precisa ser um lugar para se viver, por isso, precisamos preservar nossas florestas, nossos recursos naturais. Pensar um projeto estratégico para o país onde se cuide da água, do alimento , da nossa identidade de povo camponês”, defende João Paulo.

O momento é de resistência – Naidison Baptista, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), diz que o momento atual é de resistência. “Quando o agricultor diz que este encontro é nosso, dos agricultores e das agricultoras, é porque são sujeitos do seu caminho. Isso é fundamental, isso é resistência. O que estamos fazendo aqui é um movimento de resistência”, reforça Naidison e complementa: “O que estamos fazendo é uma experiência de resistência ao Temer, ao golpe, porque eles não querem agricultores sujeitos, querem agricultores subalternos. Então, isto aqui é resistir”.

Naidison chama a atenção de agricultores, agricultoras e organizações sobre as tentações que poderão vir no decorrer deste momento e que não fazem parte da nossa proposta de convivência com o Semiárido, da agroecologia, de partilha da terra, do protagonismo das mulheres e das famílias agricultoras. “Esse encontro é um apelo à fidelidade. Esse encontro coloca claro qual é a nossa luta. Sejamos fiéis aos nossos princípios. Ou se é fiel, ou se muda de time. Lutamos por uma perspectiva de Nação, de Estado que se aproxime dos pobres”, declara. “Vamos terminar bem esse encontro, curtir ele, se alimentar dele, mas não se fechar nele. Se alimentar da semente da resistência”, conclui Naidison.

Imagem: O IV Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores/as encerra seu terceiro dia de atividade com uma mesa de diálogo entre os movimentos sociais do campo – Foto: Ana Lira

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