Novo documentário dirigido por Silvio Tendler e produzido por Caliban Cinema e Conteúdo
A quem pertencem os bens comuns da natureza? Quem é o dono dos mares, dos rios, das florestas, dos ventos? Quem são os mais prejudicados quando estes bens comuns são apropriados por uma pequena parte da sociedade? Como construir uma nova forma de viver que mescle e atualize os saberes ancestrais com as conquistas da Ciência e da Tecnologia, que sirvam à humanidade e não destruam o planeta? O documentário Fio da Meada discute as conexões entre a crise ecológica contemporânea, o modelo econômico, as desigualdades sociais e as diversas formas de injustiça ambiental geradas pela exploração das pessoas e do meio ambiente.
Apostamos em três fios que se conectam e tecem solos férteis para o futuro: o território, o alimento e o diálogo entre saberes tradicionais, comunitários e científicos que forneçam sentidos à existência humana. Através de entrevistas com intelectuais, sábios e lideranças de comunidades tradicionais e camponesas, o filme propõe um processo de diálogos e buscas de alternativas ao modo de vida predatório que coloca riqueza material e consumo acima dos interesses coletivos e humanitários. Refletimos sobre a construção de um outro modelo de sociedade e de desenvolvimento a partir de uma mudança civilizacional que se apresenta cada vez mais urgente.
Enquanto consumirmos desenfreadamente e adotarmos políticas superficiais de controle dos impactos ambientais e sociais, seremos os principais inimigos de qualquer mudança. O capitalismo financeiro e extrativista que gera injustiça ambiental é o pano de fundo para os conflitos por território em todo o país. No campo ou nas cidades, a luta por terra e moradia é o principal deflagrador de violência e tensão contra os povos da floresta e populações periféricas. Fomos buscar no Pará, na Paraíba, no Rio de Janeiro e em São Paulo expressões dessa luta. Ao longo dos Rios Tapajós e Trombetas, mundurukus, ribeirinhos e quilombolas se mobilizam para preservar suas as águas e terras. Juntos, eles tentam impedir a construção de hidrelétricas, de grandes portos para a exportação de soja e barrar a expansão do agronegócio e da mineração que aniquila povos, conhecimentos e a natureza.
No sertão da Paraíba, fomos conhecer o Polo da Borborema, onde pequenos agricultores resistem ao monocultivo de sementes transgênicas, às grandes plantações e ao avanço das corporações transnacionais, que controlam de forma desigual a produção, a distribuição e a venda de alimentos. Através de bancos de sementes, conhecidas como sementes da paixão, as espécies crioulas são valorizadas e estocadas para promover uma convivência harmônica com o semiárido. Dessa forma, eles praticam a ecologia de saberes e mantém vivo o conhecimento ancestral. A luta do campo e das florestas é a mesma das grandes cidades, onde a especulação imobiliária e a lógica de mercado intensificam as desigualdades, em vez de construir espaços inclusivos e democráticos.
Mostramos em São Paulo o fenômeno da gentrificação que expulsa as populações mais pobres e discriminadas para as periferias, ao mesmo tempo em que elas resistem e organizam lutas por cidades mais inclusivas e democráticas. No Rio de Janeiro, conhecemos uma iniciativa de saneamento ecológico que mostra como os bens comuns podem ser reconstruídos e preservados com ações de pequenos grupos, que podem se ampliar em escalas crescentes.