EUA: Exército vai fechar acesso a acampamento indígena contra oleoduto na Dakota do Norte

Comando militar interditará área em 5/12, mas afirma que ‘não há planos de retirada forçada’ de manifestantes, que protestam contra projeto em reserva

No Opera Mundi

O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA declarou na sexta-feira (25/11) que, a partir do dia 5 de dezembro, irá impedir o acesso à área onde se encontra o principal acampamento de manifestantes contrários à construção do oleoduto Dakota Access, no Estado da Dakota do Norte.

O comando do Exército, que administra a terra ao norte do rio Cannonball onde está localizado o acampamento Oceti Sakowin, afirmou neste domingo (27/11), entretanto, que “não há planos de retirada forçada” das cerca de 5 mil pessoas que estão acampadas na reserva indígena Standing Rock em oposição ao projeto.

“As pessoas que escolherem ficar o fazem por sua conta e risco, já que serviços de emergência médica, policial e de bombeiros não podem ser adequadamente fornecidos nestas áreas”, declarou o Corpo de Engenheiros do Exército norte-americano. “As pessoas que ficarem serão consideradas desautorizadas e estão sujeitas a serem enquadradas por leis federais, estaduais ou locais”, afirmou o comando militar, lembrando o risco aos acampados devido às “severas condições do inverno na Dakota do Norte”.

“Nossa tribo está profundamente decepcionada com esta decisão dos Estados Unidos, mas nossa determinação em proteger nossa água é mais forte do que nunca”, declarou Dave Archambault, chefe da tribo Sioux, em um comunicado em que esclarece que os acampados permanecerão no local.

“A melhor maneira de proteger as pessoas durante o inverno, e reduzir o risco de conflito entre defensores da água e a polícia militarizada, é negar a autorização para a passagem de Oahe [ao oleoduto], e negá-la agora”, acrescentou.

Oahe é um reservatório no rio Missouri, por onde está prevista a passagem de um trecho do oleoduto, que já tem 60% de seu percurso construído. O Exército dos EUA já adiou duas vezes a decisão de autorizar ou não a construção deste trecho, com o objetivo de analisar melhor o impacto do projeto sobre a reserva indígena. A Energy Transfer Partners, empresa responsável pelo projeto, entrou com uma ação em 15 de novembro pedindo que a Justiça norte-americana ordene a liberação da autorização.

Polícia intensifica repressão contra manifestantes

Manifestantes estão reunidos desde janeiro de 2016 em vários acampamentos na reserva indígena Standing Rock, onde o projeto de US$ 3,8 bilhões prevê a passagem do oleoduto subterrâneo de 1.900 quilômetros de extensão que transportaria petróleo da Dakota do Norte até Illinois, passando pelos Estados de Dakota do Sul e Iowa.

Nos últimos meses, policiais da região têm intensificado a repressão ao acampamento e aos protestos promovidos pelos ativistas, a maioria indígenas de diversas tribos que se reuniram em defesa da terra e dos recursos hídricos da região.

Desde agosto, mais de 500 pessoas foram presas por participação nos protestos. Em 20 de novembro, uma ação policial contra os manifestantes deixou mais de 300 pessoas feridas, com pelo menos 26 delas hospitalizadas após os policiais avançarem sobre a multidão usando balas de borracha, gás lacrimogêneo e canhões de água – que causaram hipotermia em centenas de pessoas, já que a temperatura local se encontrava abaixo de zero.

A tribo Sioux entrou com ação na Justiça norte-americana contra o projeto, alegando que o oleoduto atravessará mais de 200 passagens de água subterrâneas, incluindo uma a menos de 1.600 metros da reserva, colocando em risco o abastecimento de mais de 8.000 indígenas e outras milhões de pessoas que dependem das águas da região.

Além dos riscos ambientais do projeto, os indígenas sustentam que a construção do oleoduto na região viola o Tratado de Fort Laramie, de 1868, por meio do qual o governo norte-americano se comprometeu com os nativos a “garantir perpetuamente a utilização dos recursos hídricos” da região em que vivem.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, é acionista da Energy Transfer Partners, a principal proprietária do projeto, assim como da Phillips 66, empresa que será proprietária de 25% do oleoduto quando ele for concluído. Ativistas temem o conflito de interesses a partir de 20 de janeiro, quando Trump tomará posse, e pressionam para que o atual presidente, Barack Obama, vete o projeto.

Manifestantes em um dos canteiros de construção do oleoduto Dakota Access, na reserva indígena Standing Rock, em setembro. Foto: Indigenous Environmental Network

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