Quatro policiais de Aulnay-sous-Bois foram indiciados por ‘violência voluntária’ e estupro e suspensos de suas funções; François Hollande, presidente francês, visitou Théo no hospital e pediu que população confie na Justiça
Localidades no subúrbio de Paris tiveram nesta terça-feira (07/02) a quarta noite de protestos após a denúncia de um jovem negro de ter sido estuprado e agredido por policiais na cidade de Aulnay-sous-Bois, nos arredores da capital francesa.
Centenas de pessoas têm participado das manifestações que pedem “justiça para Théo”, hospitalizado desde a última sexta-feira (03/02).
Théo, de 22 anos, foi detido na noite de quinta-feira (02/02) por tráfico de drogas, segundo a versão oficial da polícia. No entanto, segundo a denúncia do jovem, ele foi agredido pelos agentes e estuprado por um deles com um cassetete, motivo pelo qual precisou passar por uma cirurgia após ter sofrido graves ferimentos na região retal.
Os quatro policiais negaram o crime e disseram que estavam apenas controlando um homem suspeito de traficar drogas que estava resistindo à prisão. Segundo o depoimento de Théo, no entanto, ele saiu da área onde estava quando foi abordado porque sabia que não havia câmeras no local. “Eu fui diante das câmeras, eu não tentei fugir, eu disse à polícia”, afirmou o jovem.
No domingo (05/02), três dos policiais foram indiciados por “violência voluntária” e o quarto, por estupro. Os quatro foram suspensos de suas funções.
Desde então, protestos em Aulnay-sous-Bois e outras cidades nos subúrbios ao nordeste de Paris, como Clichy-sous-Bois, Tremblay-en-France e Villepinte, tiveram protestos que levaram à detenção de ao menos 17 manifestantes, segundo a Agência Efe. Na noite de segunda-feira (06/02), vários veículos foram incendiados e lojas foram destruídas em Aulnay-sous-Bois. Na madrugada desta quarta-feira (08/02), um edifício em Trembley-em-France teve de ser evacuado devido a um coquetel molotov jogado dentro do prédio, enquanto uma delegacia local teve sua fachada destruída.
No hospital, o jovem recebeu a visita do presidente da França, François Hollande, nesta terça-feira (07/02), que afirmou que Théo “reagiu com dignidade e responsabilidade”, referindo-se ao pedido do jovem para que os manifestantes parem com a “guerra”. “Sei o que está acontecendo. Amo a minha cidade e quando voltar quero encontrá-la como a deixei. Ou seja, parem com a guerra. Rezem por mim”, disse o francês à imprensa local.
O presidente francês pediu que a população tenha confiança na Justiça. Hollande ainda disse que o papel da Justiça é “proteger” os cidadãos, “inclusive” quando um “agente das forças de ordem” está envolvido. O primeiro-ministro francês, Bernard Cazeneuve, afirmou que atuaria “com a maior firmeza” contra os policiais, caso as denúncias sejam confirmadas.
Por sua vez, Marine Le Pen, candidata presidencial da extrema-direita, expressou seu “apoio às forças de ordem, salvo provas da Justiça de que eles cometeram um delito ou crime”. “Acho inaceitável difamar os policiais antes mesmo do início das investigações”, disse Le Pen.
Em julho de 2016 em Beaumont-sur-Oise, também no subúrbio ao norte de Paris, outro jovem negro, Adama Traoré, foi violentamente agredido por policiais e morreu no momento de sua detenção. Sua morte provocou uma onda de indignação e protestos nos arredores da capital francesa.
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Foto: Manifestantes pedem “Justiça para Théo” em protestos que ocorrem desde sábado