Especial “Trilogia da Terra”: Filmes de Tetê Moraes debatem a reforma agrária no Brasil

Programação inclui curta-metragem inédito sobre o legado das ocupações

Por Canal Brasil/MST

A cineasta Tetê Moraes deu início, em 1985, a uma trilogia de obras sobre a ocupação por parte de militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da Fazenda Annoni, no Rio Grande do Sul. Nascia, nos campos do sul do país, a primeira luta da organização em prol da reforma agrária e da democratização do acesso à terra.

Presente no cotidiano dos revolucionários, a diretora buscou majoritariamente as vozes femininas e encontrou na figura de Roseli Celeste a interlocutora ideal para explicar as motivações e os desejos dos trabalhadores rurais e batizou sua primeira película de Terra para Rose (1987). Depois de uma década, a realizadora retornou aos assentamentos dos camponeses para rodar O Sonho de Rose – 10 Anos Depois… (2000) e concluiu a sequência de obras com Fruto da Terra (2008), sobre o filho da protagonista, hoje um médico bem-sucedido. Nos dias 20 e 21 de junho, o Canal Brasil exibe as três fitas, propondo uma discussão sobre o tema, ainda tão relevante depois de tantos anos.

DESTAQUE: Terra para Rose (1987) (83’) Direção: Tetê Moraes – O documentário registra a ocupação da fazenda Annoni, no Rio Grande do Sul, em 1985, por um grupo de 4 mil agricultores. Considerada improdutiva, a propriedade de 8 mil hectares havia sido desapropriada pelo Governo Federal em 1975. No entanto, a demora em encontrar uma solução para o assentamento das famílias acelerou a tomada da terra pelos camponeses. É sob essa ótica que, um ano após a ocupação, a cineasta Tetê Moraes investiga os problemas agrícolas presentes no Brasil, as políticas de reforma agrária, a lentidão da justiça e o MST – na época das filmagens, em fase incipiente. Buscando intencionalmente o olhar feminino, a diretora concentrou os depoimentos nas esposas dos camponeses. Mulheres jovens e idosas, com seus filhos, cozinhando para os maridos, falam sobre o sonho e a luta de possuir uma terra onde possam viver.

Dessa forma, a vida e o cotidiano de Roseli Celeste Nunes da Silva ganham destaques na trama. Militante do Movimento dos Sem-terra e uma das mais atuantes nas lutas, Rose – como é conhecida – chegou ao acampamento ainda em 1985 e, dias depois da ocupação, deu à luz o primeiro bebê que nasceu no assentamento. Sua intensa participação no movimento a fez liderar uma passeata de 300 quilômetros até Porto Alegre, onde os trabalhadores invadiram a Assembleia Legislativa e permaneceram por seis meses, até ser dada uma solução para as famílias que estavam na fazenda Annoni.

No entanto, em outubro de 1987, aos 33 anos, participando de uma manifestação contra a alta dos juros e a indefinição da política de reforma agrária, em Porto Alegre, Rose foi morta em circunstâncias suspeitas: um motorista de uma empresa agrícola jogou o caminhão contra os manifestantes na rodovia BR-386, matando a mulher e mais dois camponeses.

Quarta, dia 20/06, às 18h.

DESTAQUE: O Sonho de Rose – 10 Anos Depois… (2000) (92’) Direção: Tetê Moraes – Em 1996, dez anos após rodar o longa Terra para Rose (1987), a cineasta Tetê Moraes retorna ao assentamento de camponeses da fazenda Annoni, no Rio Grande do Sul, para saber o que aconteceu ao acampamento e aos trabalhadores que ali habitavam. Paralelamente, resgata a história de Rose, agricultora que se mudou para o local com o marido e os três filhos e que teve um destino trágico: foi atropelada por um caminhão durante uma manifestação em favor da reforma agrária, na rodovia BR-386 em outubro de 1987, e se tornou símbolo do movimento de luta pela terra.

Usando flashbacks, a diretora resgata imagens do filme Terra para Rose (1987) e aborda o crescimento surpreendente do assentamento, revelando a forma como a região se desenvolveu. O filme apresenta as conquistas e os problemas, sem fugir dos impasses, mas mostrando que a realidade de pequenos agricultores – trabalhando em família, associações ou cooperativas – pode ser modificada com espírito de luta, vontade política e perseverança. O sonho de ter uma terra para plantar e criar os filhos foi conquistado por muitos. Alguns ocupantes da fazenda Annoni se dispersaram em diversos assentamentos e agrovilas gaúchas, onde prosperaram criando cooperativas, abrindo frigoríficos, estabelecendo acordos de cooperação entre si e com ONGs. No entanto, o destino da família de Rose foi bem diferente do que ela sonhou. Traumatizados com o acidente que a vitimou, o viúvo e os filhos se mudaram para Rondinha, cidade próxima ao acampamento, atrás de melhores oportunidades de emprego: o pai virou pintor, enquanto a filha mais velha foi trabalhar como doméstica.

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INÉDITO e EXCLUSIVO: Fruto da Terra (2008) (15’) Direção: Tetê Moraes – O curta-metragem sobre o primeiro bebê nascido na Fazenda Annoni conclui a chamada Trilogia da Terra, idealizada pela cineasta Tetê Moraes, sobre a luta de 1,5 mil famílias pela reforma agrária no sul do país. Roseli Celeste – que emprestou seu nome aos primeiros filmes da sequência, Terra para Rose (1987) e O Sonho de Rose – 10 Anos Depois… (2000) – morreu pouco tempo após dar à luz ao pequeno Marcos, então com apenas um ano e quatro meses de idade. Em uma de suas falas, a ativista pede que sua luta não seja em vão. A mulher não viu, mas sua batalha culminou com a conquista da terra e de novas oportunidades de vida. Com 22 anos em 2008, Marcos foi agraciado com uma bolsa estudos para uma faculdade de Medicina, em Cuba. Mais de duas décadas após o início dessa história, a cineasta relata uma trajetória de superação de desigualdades e injustiças, marginalização e miséria.

Quinta, dia 21/06, às 18h.

Imagem: Adolfo Gerchmann/Editora Abril.

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