Jorge Viana engrossa o coro absurdo da ala desenvolvimentista do governo federal que defende explorar petróleo na foz do Amazonas para financiar a transição energética.
O atual presidente da ApexBrasil, o engenheiro florestal Jorge Viana, ex-governador e ex-senador pelo Acre, assessorou o movimento dos trabalhadores rurais e seringueiros de seu estado, o que o fez se aproximar do lendário Chico Mendes. Décadas depois, porém, sua defesa da exploração de petróleo na foz do Amazonas certamente causaria vergonha no líder seringueiro brutalmente assassinado por sua luta pela preservação da Floresta Amazônica, bioma que, além do desmatamento, vem sendo ameaçado pelas mudanças climáticas causadas pelos combustíveis fósseis.
Viana repete à Exame a narrativa da ala do governo que, baseada num projeto de desenvolvimento a qualquer custo, defende que a exploração de petróleo na área da foz e na totalidade da Margem Equatorial é necessária para “financiar a transição energética”. Como se a transição não dependesse de medidas opostas, como a eliminação dos subsídios aos combustívieis fósseis e seu redirecionamento às tecnologias da transição, como a eletrificação dos transportes, a pesquisa das tecnologias de produção e emprego do hidrogênio verde e a eficiência energética, entre outras.
“O petróleo lá tem que ser explorado com toda rigidez e cuidado, quem sabe criando um fundo soberano que mude a vida do povo que vive na Amazônia. São 29 milhões de pessoas morando na região mais rica do planeta e que passam necessidades básicas. Se o Brasil pegar esse novo pré-sal e fizer direitinho a gente faz a transição para o modelo descarbonizado, mas colocando os brasileiros em um padrão de vida digno. As coisas não são incompatíveis para mim”, afirmou, ignorando os previsíveis impactos da atividade petroleira na sensível região da foz, e fechando os olhos ao fato que a exploração de petróleo é uma atividade concentradora de renda.
Antes de misturar na mesma frase combustíveis fósseis, “economia verde” e transição energética, o presidente da ApexBrasil deveria conhecer Mark Jacobson. Professor da Universidade de Stanford, ele estudou o que seria necessário para alcançar a meta de energia 100% limpa de carbono em 145 países – considerando a eletrificação de edifícios, transportes e indústria. E mostrou que é possível cortar 80% do consumo de combustíveis fósseis em todo o mundo até 2030, como informa o Um só planeta.
“Temos 95% das tecnologias que precisamos para fazer a transição (energética) agora, então, se as implantássemos o mais rápido possível, poderíamos fazer a transição de pelo menos 80% até 2030”, disse Jacobson.
O que Jacobson e outros especialistas argumentam é que, com vontade política e financiamento similar à de uma guerra mundial, o mundo poderia abandonar o uso de combustíveis fósseis em um espaço de 10 a 15 anos. Se a própria Petrobras calcula que qualquer produção de petróleo na foz do Amazonas demoraria 6 anos, pelo menos – isso em caso de descoberta –, fica a dica de que é melhor mantê-lo onde está.
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Imagem: Foz do Amazonas – Victor Moriyama / Greenpeace