Atingidos por barragem de Mariana lançam jornal

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Os atingidos pelas barragem de rejeitos da Samarco, em Mariana/MG, lançaram a segunda edição dos jornal feito por eles: “A Sirene”. A publicação é mensal e tem o apoio do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UFOP e do coletivo #UmMinutoDeSirene, um grupo formado por moradores de Mariana e Ouro Preto que realiza ações voluntárias com o intuito de defender o direito dos atingidos à Comunicação e à preservação das suas memórias.

Com tiragem de 2.000 exemplares, impressos com o apoio da Arquidiocese de Mariana, o jornal é distribuído entre os atingidos que estão espalhados pela sede de Mariana, nos distritos e subdistritos atingidos e também na cidade de Barra Longa.

Abaixo, a versão digital da segunda edição do jornal “A Sirene” e o editorial assinado pelo coletivo #UmMinutoDeSirene:

 

“Editorial – Desde o dia 05 de novembro de 2015 a inquietude se abateu em muitos brasileiros e nós, atingidos, passamos a ser conhecidos no mundo inteiro. Várias formas de manifestações de apoio ocorreram, envolvendo pessoas de diferentes lugares e ideais.

Aqui em Mariana não foi diferente. O grupo #UmMinutoDeSirene, formado por moradores da cidade e de Ouro Preto, realizou muitas ações em prol dos atingidos e questionando a tragédia. Nossa missão cidadã e voluntária é lutar pelos direitos dos atingidos à comunicação e à preservação da memórias das suas comunidades – umas, afetadas e outras, devastadas –, todas atingidas pelo rompimento da barragem de rejeito da Samarco/Vale/BHP.

O jornal A Sirene surgiu de uma dessas ações de apoio do grupo #UmMinutoDeSirene. Não foi criado para julgar os responsáveis por este que já é o maior desastra socioambiental dos 516 anos de história do Brasil. Mesmo porque, ao entrevistarmos a própria imprensa na reportagem “O repórter sou eu”, aprendemos com o jornalista Daniel Camargos que os veículos de comunicação não devem exercer o papel que cabe à Justiça. Muito menos, o nosso grupo.

Desde a tarde daquele 05 de novembro de 2015, os moradores do Bento e de Paracatu, que viviam unidos em suas comunidades, passaram a sobreviver espalhados pelos hotéis, ruas e casas provisórias da sede de Mariana. Pedaço de terra que respeitam e sempre agradeceram pela acolhida e solidariedade, mas que não é a “comunidade unida” deles.

Por isso, a luta não terminou. Queremos apoiar a voz deles pelo novo Bento; pela nova Paracatu; por Pedras, Ponte do Gama e Barra Longa livres da lama. Queremos todas as coisas simples do dia-a-dia deles, como mostramos aqui na reportagem “Sabores da memória”.

Queremos dar voz ao direito dos atingidos de viverem unidos, da forma que sempre batalharam e construíram suas famílias.

O jornal A Sirene chega à sua segunda edição também como uma “voz provisória”, assim como são apenas paliativos os ressarcimentos que a empresa tem oferecido aos atingidos para minimizar o prejuízo incalculável que foi causado. Inclusive, uma forma de tentarmos mostrar aos nós, marianenses, que não se pode transformar o drama de todos – da sede e das comunidades atingidas – em preconceito, em ódio, descaso e egoísmo, como tem acontecido com frequência neste mês de março.

O direito dos atingidos de se comunicarem da maneira que bem entenderem é algo que precisa ser respeitado e não pode ser visto como um afronta à empresa, a Mariana e aos governantes, pois não foram os moradores do Bento e de Paracatu que no dia 05 de novembro romperam qualquer direito de outros cidadãos e de outras comunidades marianenses e da Bacia do Rio Doce.

Sabemos que a empresa e os governos possuem centenas de jornalistas e milhares de recursos para publicidade, trabalhando a história pela visão deles. Aqui, são poucos voluntários e os próprios atingidos que se juntam para debater problemas e as possíveis soluções. São os atingidos que saem em campo para pesquisar, reescrever, fotografar e mostrar a história pelo olhar deles, pelas críticas deles, pelos segredos deles, pelos questionamentos deles e apontando as soluções que eles queremos para o rumo das vidas deles.

Quando as empresas construíram a barragem, não foram os moradores do Bento e de Paracatu que decidiram como ela seria. Portanto, não é justo que a comunicação deles e a reconstrução da vida deles sejam decidas por outros que não eles mesmos.”

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Íris Morais Araújo.

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